terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Lavras, onde o passado entreabre um olho (III)

Logo nos primeiros passeios pela cidade uma decepção pessoal. Durante anos acalentei o sonho delirante de ter as cinzas espalhadas entre as oliveiras do adro da Igreja local., a matriz de Santo Antônio. Foi uma surpresa constatar que há mais de 20 anos não existem mais oliveiras, extirpadas sabe-se lá porque por um pároco que promoveu um novo ajardinamento absolutamente comum e sem charme. É duro saber que um sonho delirante persistiu por tanto tempo sem perspectivas.

A Igreja Matriz de Santo Antonio

Ademais, o roteiro de sempre em cidades pequenas: visita aos colégios freqüentados e às antigas residências, além de o reconhecimento das antigas localizações, “aqui era isto, ali aquilo”, essas coisas. A Padaria São José continua há 60 anos no mesmo lugar, mantendo entre o seu leque de produtos alguns dos que conheci quando criança: biscoitinhos “vovó sentada”, pão sovado, pão d’água.. A Churrascaria Freitas também, um pouco mais nova, mas com cardápio imutável ao longo do tempo. Curiosamente, embora o padroeiro da cidade seja Santo Antônio, o principal atrativo religioso é a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.

A gruta de Nossa senhora de Lourdes

Nos tempos antigos um de seus acessos era bastante difícil, construído entre pedras, razão pela qual servia para o pagamento de muitas promessas. As graças atendidas pela santa estão registradas em placas de agradecimento ao redor da gruta. De lá, o ponto mais alto da cidade, tem-se uma vista panorâmica muito bonita. Ou tinha-se. A gruta era o ponto de referência. De qualquer local podia ser avistada. Mas, a situação mudou com a construção, em sua frente, de uma residência assobradada que lhe obstrui a vista. Não bastasse, ao seu lado encontram-se lupanares. Em um dos quais fomos tomar refrigerantes, sob o olhar desconfiadíssimo de uma das irmãs diante de tanta cortina e sofás de cor vermelha. Que as pessoas abastardem um símbolo da cidade é compreensível, afinal “vanitas vanitatem omnia vanitas” (latim, minha gente). Difícil é aceitar que a prefeitura não tenha tomado as precauções necessárias por meio de um plano de ordenamento territorial.

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