sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Viagem às Nascentes da Língua Portuguesa

Emanuel Medeiros Vieira

Para Victor Alegria e a todos os companheiros da jornada às nascentes (de 21 de junho a 1° de julho de 2009)

“Da minha língua vê-se o mar”

(Vergílio Ferreira)

Nossa Pátria é a Língua Portuguesa.
Ou melhor, as “línguas portuguesas”.
Falar de uma viagem preciosa? Um encantamento ou deslumbramento meditado em breve reflexão.
Um personagem de Godard disse que as viagens formam a juventude.
Creio que elas formam a nossa vida toda: enriquecem, e dão uma dimensão maior do mundo, muito maior, inundam o nosso olhar de coisas belas.
Não, não falarei em tudo, e serei fragmentário.
Resumindo? A gente buscou “olhar”, olhar muito, indo ao Portugal profundo, durante 10 intensos e inesquecíveis dias.
Ah, Porto – que belíssima cidade! –, Rio D’Ouro (bate uma imensa vontade de voltar), Alcobaça, Sintra, Coimbra, Fátima,, Braga, Almerim, Mafra, Vila do Conde, Viana do Castelo, Guimarães (berço da nacionalidade lusa). Eu sei, não citei todos os lugares, nem segui a ordem geográfica.
Meu mapa é afetivo, do coração.
Naquele maravilhoso dia passado em Coimbra – universidade fundada em 1° de março de 1290 –, pensava em todos os pés que ali pisaram antes de nós, os poetas românticos, os seres todos.

Pedras, mosteiros, rios, vidas. E seres humanos inesquecíveis, como o guia Carlos (sempre atento e disciplinado), sua terna esposa Inês, os também humanistas, cultos e amorosos professores Carlos e Fernando, o generoso Felipe e a “brasileira” de Alagoas, a querida Manaíra.
Não posso me esquecer do eficiente Rui e dos outros colegas escritores do Porto. E do jantar na UNICEPE, com declamação de poemas.
Não cito nominalmente os companheiros de viagem (mas todos estão no meu coração).
Garçons, motoristas, gente dos hotéis, transeuntes a quem pedíamos informações, passeios variados, amigos queridos feitos na viagem – e não individualizarei para não cometer injustiças. Mas lembro de um emocionado Ligório declamando poemas de autores pernambucanos num inesquecível almoço em Alcobaça.
Poderia falar sobre Sintra, pastéis de Belém, vinhos, bacalhau, café longo, paés deliciosos, a “sopa de pedra”, em Almerim...
Toda narrativa é um ato de escolha. Precisaria de um diário de viagem.

Queria dizer que voltamos “melhores”: mais enraizados em nossas nascentes – ah, nosso destino comum-, nessa Língua tão bela e plural.
Voltamos (somos cidadãos do mundo, nossa pátria é o “exílio”...).
Ah, Tejo.
Visita à Biblioteca Nacional, em Lisboa, à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tão bem recebidos pelo embaixador Lauro Moreira.
(Quem ler, dirá com razão: o cronista esqueceu de tanta coisa! Mas o propósito não foi esgotar o assunto.)
É verdade: sou apenas o redator de um telegrama
Recordar vem do latim “recordis” e significa “tornar a passar pelo coração”.
E é por tantas razões que escrevemos. Para despistar a morte, deixar algo além da poeira do tempo, para amar e ser amado. Escrevemos porque não sabemos por quê...
Porque somos o único animal eu sabe que vai morrer. Somos ontologicamente finitos. Mas nosso obra pode ser infinita. Eterna.
Como esquecer do “Livro na Rua” – ecumênico, plural e democrático – distribuído para o estudantes de Coimbra (e dialogamos com os moços), e em tantos outros lugares?
Não ficará no oblívio, a festa de São João, no Porto. O Café Majestic. As pontes. E chegamos à Galícia, na Espanha.
Somos todos nós que construímos essa Língua, dia a dia.
Foi uma viagem fantástica, No fundo, o mero turista só “registra”. Nós não só registramos. Olhamos, vivemos. E, principalmente, amamos.
Que saudade eu sinto agora olhando o mapa de Portugal!
Esta Língua...
Como diz Eduardo Lourenço, “é ela que vive em nós e não nos que vivemos nela.”

Agradeço a todos os companheiros de viagem (um agradecimento especial ao Victor e à sua dedicada esposa Ises), à Célia, sempre companheira, ao Maurício, terno, humano, o filho que todo pai gostaria de ter.
Encerro: “Isso é coisa normal,/mas anormal, se me entendes,/se tu bem
me compreendes,/agora és de Portugal!
Vê se então outrora/soou-te o sinal da sina/pondo-te na vida uma quina/Portugal, chegou a hora!”

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mediocridade e degradação da atividade política

Emanuel Medeiros Vieira

O filósofo vienense Ludwig Wittgenstein (1889-1951 ) afirmava: “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”
Onde quero chegar?
É de percepção solar a degradação das instâncias de poder no Brasil. E também a mediocrização e a degradação da atividade política.
Quem está , como eu, há muito tempo em casas políticas (37 anos!), percebe que, além da desagregação dos valores, ocorre também a degradação da linguagem.
Quero dizer: o nível dos parlamentares e o padrão dos discursos (sem qualquer ranço de nostalgia), piorou muito.
Octávio Paz dizia que uma degradação de uma nação começava pela degradação de sua linguagem.
Independente de se concordar com suas posições ou não, percebia-se o nível de pronunciamentos de, um Aliomar Balleiro, de um Adauto Lúcio Cardoso e, posteriormente, de um Tancredo Neves, de um Ulysses Guimarães e de um Darcy Ribeiro. Não citei muitos.
Muitas das colunas políticas da mídia impressa refletem isso. Várias são de uma mediocridade e de uma futilidade enormes.
Deputado tal que jantou com outro líder, um parlamentar que foi visto conversando com o seu líder. A linguagem “neutra’ é uma falácia. Ela serve a diversos interesses, e nunca é neutra.
Quero dizer: a mediocrização contaminou as próprias colunas, que deixam de contemplar análises consistentes (é claro, não estou pedindo teses acadêmicas), para se tornaram espaços para intrigas, fofocas, ou irradiarem nas entrelinhas outros interesses. Lembrem-se de algumas colunas.
Teria sido claro?

Informa-se que professores da Espanha e de outros países estão desistindo da profissão. Sentem-se mais ofendidos pelo desinteresse dos alunos do que pela sua ignorância.
O conhecimento é um caminho longo e complexo. Não tem milagre.
Ele perde em nossa sociedade da fragmentação, da pressa, do utilitarismo, do “quero já e agora”, para a busca do prazer absoluto e instantâneo.
Haveria uma razão cultural pela queda do prazer gerado pela leitura. Lógico, o reino soberano é o da imagem, muitas mídias são oferecidas, tudo ficou mais rápido, complexo e esfacelado. E predomina a cultura do narcisismo, além de uma enorme preguiça mental.
E o que me parece mais grave: há uma crescente indiferença pelo sofrimento humano. Dos outros.
Nossos contemporâneos estariam imersos em bobagens sem valores, em futilidades, na obsessão pela beleza, pela magreza, pela juventude eterna, dominados pela infantilização mental? A vida estaria virando um deserto de valores E como se exerce a cidadania? Um espaço seriam os partidos
políticos. Mas no Brasil eles viraram clubes fisiológicos.
Está havendo uma peemedebização total do sistema político (no PT, DEM, PSDB e satélites).

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Se um viajante numa noite de inverno...

Bueno, se ele entrar em uma livraria poderá comprar o livro homônimo de Ítalo Calvino e estará servido de boa literatura. Mas, se em uma noite de inverno o viajante for recebido na Chácara Esperança, região da Fercal, em Sobradinho, DF, poderá participar de um ato de fé, rezando um terço comunitário.



O ancestral fascínio pelo fogo



Os apetrechos da fé



The Holy Bible (A Bíblia Sagrada) is on the table