terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Algumas vicissitudes e os créditos (I)

Dos quatro municípios da nossa base preferencial, apenas Lavras do Sul não possui denominação de origem indígena. Pelotas deve seu nome ao tipo de embarcação feita pelos índios, com estrutura de corticeira e revestida de couro, com formato circular. Eram impulsionadas por uma corda que o índio prendia nos dentes e seguia nadando na frente. A cena está registrada no brasão da cidade. O nome Bagé tem origem não muito consensual, a hipótese mais aceita é que possua alguma relação com “cerros” na linguagem dos índios minuanos. E Caçapava, em tupi guarani, significa “clareira na mata”.

Estas plagas correspondem à antiga “Vacaria del Mar”, região que abrangia a parte mais ao sul do Rio Grande e grande parte do território do Uruguai. Tornou-se assim conhecida depois que os jesuítas, em 1640, retiraram-se para a Argentina, deixando uma imensa reserva de gado. A caça a este gado xucro foi a base econômica da ocupação inicial da terra. Uma boa descrição de como a figura do gaúcho foi forjada nestas condições pode ser encontrada na dissertação de mestrado de Claudio Marques Ribeiro, “Estudo de quatro municípios da Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul e possíveis alternativas para o seu desenvolvimento” (apresentada à Universidade Federal de Lavras, MG, em 1996). Ribeiro acredita que o passado guerreiro forjou um tipo hospitaleiro mas profundamente desconfiado com seu vizinho, que tanto podia ser um amigo como um potencial inimigo. Assim, iniciativas de promover atividades como associativismo encontram grandes barreiras pelas dificuldades de garantir o envolvimento em um trabalho conjunto. Segundo um depoimento colhido pelo autor, um dos seus entrevistados diz, sobre a ajuda mútua existente no passado: “o pessoal se ajudava e muito... quando se davam bem, e normalmente se davam bem... [mas] quando brigavam se matavam”. Nada muito diferente de 1872, quando Martin Fierro, figura arquetípica de um dos poemas fundadores da figura do gaúcho argentino, e por extensão também o do Rio Grande, depois de tantos problemas enfrentados descobre que “ser gaucho es un delito”. Esta região é onde está mais presente o sentimento de que o Rio Grande possui fronteira com a Argentina, o Uruguai e o Brasil.

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