Nossa passagem pela cidade foi rápida. As recordações do tempo de colégio ficaram prejudicadas por esta circunstância. Para reminiscências o ideal é poder andar pelas ruas despreocupadamente, visitar os locais, identificar casas e prédios, reativar a memória. Com o nosso pouco tempo o filme que passou pela cabeça resultou projetado mais rápido do que trem-bala. Depois dos problemas decorrentes do curto tempo, os problemas do evoluir do tempo: o antigo colégio virou prédio em restauração, não existe mais a vila ferroviária, onde morava Wendy, a companheirinha do Peter Pan...
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Bagé, a terra do Analista (I)
Bagé era conhecida como “A Rainha da Fronteira”. A agropecuária é o forte da sua economia, destacando-se a existência de haras de altíssimo nível para a criação de cavalos puro-sangue. Atualmente sofre uma violenta degradação ambiental, com fortíssimo processo de desertificação e racionamento de água durante boa parte do ano. O aparato urbano sofre as conseqüências. Cachorros soltos nas ruas, aliás uma constante daí em diante. O visual gaudério, das botas e bombachas, ainda é natural. O coldre das guaiacas porém vazio. Ainda bem. O pessoal é meio suscetível. Como na música do Teixeirinha: “trato todo mundo com muito respeito/ mas se alguém me pisar no pala / meu revólver fala e o bochincho está feito”.
A Avenida 7 de Setembro, em Bagé
Nossa passagem pela cidade foi rápida. As recordações do tempo de colégio ficaram prejudicadas por esta circunstância. Para reminiscências o ideal é poder andar pelas ruas despreocupadamente, visitar os locais, identificar casas e prédios, reativar a memória. Com o nosso pouco tempo o filme que passou pela cabeça resultou projetado mais rápido do que trem-bala. Depois dos problemas decorrentes do curto tempo, os problemas do evoluir do tempo: o antigo colégio virou prédio em restauração, não existe mais a vila ferroviária, onde morava Wendy, a companheirinha do Peter Pan...
Nossa passagem pela cidade foi rápida. As recordações do tempo de colégio ficaram prejudicadas por esta circunstância. Para reminiscências o ideal é poder andar pelas ruas despreocupadamente, visitar os locais, identificar casas e prédios, reativar a memória. Com o nosso pouco tempo o filme que passou pela cabeça resultou projetado mais rápido do que trem-bala. Depois dos problemas decorrentes do curto tempo, os problemas do evoluir do tempo: o antigo colégio virou prédio em restauração, não existe mais a vila ferroviária, onde morava Wendy, a companheirinha do Peter Pan...
Pelotas: doces, formigas e a praia logo ali (III)
A pesca amadora é atividade muito praticada tanto nos molhes como de resto em toda a praia. Pesca-se à beira-mar com imensa facilidade. Ao contrário das praias baianas e das nordestinas, a infra-estrutura de serviços e a amolação dos vendedores aqui é praticamente inexistente. Em compensação, torna-se necessário levar todo o equipamento que propicie algum conforto: cadeiras, barracas, água (não existe venda de cocos) e o que de comer. É comum grupos de amigos e famílias carregarem suas churrasqueiras portáteis.

No Rio Grande do Sul churrasco é a refeição mandatória de sempre. No almoço, na janta, dia sim outro também. Com o obrigatório acompanhamento da salada de maionese. Graças à abundância de rebanho, além da carne de rês a de ovelha é apreciadíssima. Todavia, almoçamos filé de linguado e anchova espalmada, que ninguém é de ferro e tratava-se de comida mais adequada para o ambiente do Cassino.
No retorno à Pelotas, o ritual único do pedágio. De Porto Alegre a Pelotas são quatro. O país paga IPVA e a CIDE, esta instituída também para o financiamento de programas de infra-estrutura de transporte, mas privatiza suas rodovias em ritmo cada vez mais acelerado. Em recente teste, de São Paulo a Foz do Iguaçu os repórteres da revista Quatro Rodas gastaram mais com pedágio do que com combustível.
Findos os passeios preliminares, o início da excursão propriamente dita. Bagé, Lavras e Caçapava do Sul seriam percorridas em uma van alugada, o que permitiria, além da comodidade óbvia, a convivência de todos em um mesmo veículo.

No Rio Grande do Sul churrasco é a refeição mandatória de sempre. No almoço, na janta, dia sim outro também. Com o obrigatório acompanhamento da salada de maionese. Graças à abundância de rebanho, além da carne de rês a de ovelha é apreciadíssima. Todavia, almoçamos filé de linguado e anchova espalmada, que ninguém é de ferro e tratava-se de comida mais adequada para o ambiente do Cassino.
No retorno à Pelotas, o ritual único do pedágio. De Porto Alegre a Pelotas são quatro. O país paga IPVA e a CIDE, esta instituída também para o financiamento de programas de infra-estrutura de transporte, mas privatiza suas rodovias em ritmo cada vez mais acelerado. Em recente teste, de São Paulo a Foz do Iguaçu os repórteres da revista Quatro Rodas gastaram mais com pedágio do que com combustível.
Findos os passeios preliminares, o início da excursão propriamente dita. Bagé, Lavras e Caçapava do Sul seriam percorridas em uma van alugada, o que permitiria, além da comodidade óbvia, a convivência de todos em um mesmo veículo.
Pelotas: doces, formigas e a praia logo ali (II)
O centro da cidade ainda ostenta vários prédios representativos de sua fase de opulência, entre os quais dois pequenos palácios. A sua restauração, no entanto, enfrenta as mesmas dificuldades dos demais prédios históricos do país. Embora as quatro cidades que visitamos tenham seu traçado urbano com características de reticulado, Pelotas é a que apresenta a topografia mais plana. Outra de suas atrações é a Praia do Laranjal, praia de rio no perímetro urbano.
Lugar marcado por notório cosmopolitismo, Pelotas é a Satolep de Vitor Ramil, autor do extraordinário "Ramilonga", disco que revela de forma esplêndida algumas características da alma gaúcha. Das suas onze faixas, três fazem referência à morte. Uma delas escancara o inconsciente coletivo: “não quero morrer de doença... / eu quero guasquear no chão / com um balaço bem na testa / e que seja em dia de festa / de carreira ou marcação”. Nada mais revelador do fatalismo orgulhoso da cultura gaúcha, seguramente herança da primeva ocupação espanhola do território.
Depois de Pelotas, a próxima etapa: a cidade de Rio Grande. A seguir, a Praia do Cassino. Rio Grande é a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul e a única a dispor de um porto marítimo, com movimentação anual da ordem de 23 milhões de toneladas. Foi criada em 1737 com a finalidade de assegurar aos portugueses a posse de terras em disputa com a Espanha. A Praia do Cassino é considerada a maior praia do mundo, "a praia do Guinness", com 220 quilômetros de extensão. Estende-se da barra do Rio Grande à barra do Chuí. Sua principal atração são os dois molhes artificais, construídos com pedras enormes para facilitar a navegação dos navios de maior calado. Vagonetas impulsionadas à vela e tração humana levam os turistas até o final dos três quilômetros de molhe.
Os molhes e as vagonetas
Lugar marcado por notório cosmopolitismo, Pelotas é a Satolep de Vitor Ramil, autor do extraordinário "Ramilonga", disco que revela de forma esplêndida algumas características da alma gaúcha. Das suas onze faixas, três fazem referência à morte. Uma delas escancara o inconsciente coletivo: “não quero morrer de doença... / eu quero guasquear no chão / com um balaço bem na testa / e que seja em dia de festa / de carreira ou marcação”. Nada mais revelador do fatalismo orgulhoso da cultura gaúcha, seguramente herança da primeva ocupação espanhola do território.
Depois de Pelotas, a próxima etapa: a cidade de Rio Grande. A seguir, a Praia do Cassino. Rio Grande é a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul e a única a dispor de um porto marítimo, com movimentação anual da ordem de 23 milhões de toneladas. Foi criada em 1737 com a finalidade de assegurar aos portugueses a posse de terras em disputa com a Espanha. A Praia do Cassino é considerada a maior praia do mundo, "a praia do Guinness", com 220 quilômetros de extensão. Estende-se da barra do Rio Grande à barra do Chuí. Sua principal atração são os dois molhes artificais, construídos com pedras enormes para facilitar a navegação dos navios de maior calado. Vagonetas impulsionadas à vela e tração humana levam os turistas até o final dos três quilômetros de molhe.

Pelotas: doces, formigas e a praia logo ali (I)
Pelotas, a Princesa do Sul, nosso ponto de encontro, alcançou no passado um grande progresso graças ao comércio de charque. A riqueza acumulada permitiu a construção de sobrados e palacetes, muitos edificados por engenheiros europeus, ainda existentes como testemunhas do período de fausto. Atualmente a cidade é grande produtora de doces e o município o maior produtor nacional de pêssegos. O ponto alto do seu calendário é a Fenadoce, Feira Nacional do Doce, que ocorre anualmente no mês de junho. Para dar maior visibilidade a esta especialização comercial, em suas praças principais, a exemplo das vaquinhas da "cow parade", estão espalhadas simpáticas e coloridas formiguinhas.
Paula e uma formiguinha
Nosso primeiro passeio foi à Charqueada São João, que ganhou projeção recente por ter sido o local cenográfico da série de televisão "A Casa das Sete Mulheres". A Rede Globo revitalizou a sede do estabelecimento, hoje local de visitação e de realização de eventos. A Charqueada São João, cuja construção foi concluída em 1810, além de ser um legado de época que foi preservado, o que é louvável, principalmente porque a atividade de produção de charque encerrou-se em 1837, conserva ainda rico mobiliário e um acervo de apetrechos utilizados na submissão dos escravos. Possui detalhes quase folhetinescos, como saídas falsas construídas para que os senhores pudessem manter-se a salvo de eventuais inimigos ou de sedições dos escravos. A casa e o jardim preservam vários elementos de inspiração maçônica. São João é a mais célebre das charqueadas remanescentes. Um passeio de barco facilita a visita a outras duas na vizinhança, todas à margem do Rio Pelotas.
A Charqueada São João
Nosso primeiro passeio foi à Charqueada São João, que ganhou projeção recente por ter sido o local cenográfico da série de televisão "A Casa das Sete Mulheres". A Rede Globo revitalizou a sede do estabelecimento, hoje local de visitação e de realização de eventos. A Charqueada São João, cuja construção foi concluída em 1810, além de ser um legado de época que foi preservado, o que é louvável, principalmente porque a atividade de produção de charque encerrou-se em 1837, conserva ainda rico mobiliário e um acervo de apetrechos utilizados na submissão dos escravos. Possui detalhes quase folhetinescos, como saídas falsas construídas para que os senhores pudessem manter-se a salvo de eventuais inimigos ou de sedições dos escravos. A casa e o jardim preservam vários elementos de inspiração maçônica. São João é a mais célebre das charqueadas remanescentes. Um passeio de barco facilita a visita a outras duas na vizinhança, todas à margem do Rio Pelotas.

Quando brigam, se matam! A história de um roteiro turístico
No início de ano realizamos um passeio com a principal finalidade de visitar a terra natal. Os participantes: este que digita o relato, mais três irmãs, um cunhado e uma sobrinha. Voltaríamos aos lugares da infância, cerca de quarenta anos depois. Vindos cada um de um ponto diferente, fomos ao sul do Sul: Pelotas, depois Bagé, Lavras do Sul e Caçapava do Sul. A maior parte destes municípios são pobres, dentro da região mais pobre do Rio Grande. Os seus indicadores socioeconômicos estão distantes dos encontrados nas cidades de colonização alemã e italiana. O Rio Grande do Sul, que sempre esteve cindido politicamente, agora está cindido no seu grau de desenvolvimento. A divisão entre as chamadas metade sul e metade norte do estado tem sido tratada em diversos estudos e análises.
A volta à terra natal é sempre uma aventura interessante. Pode ser fácil, prazerosa, pode ser perturbada por fantasmas. Em casos extremos, é uma tragédia. Como a vivida por José Maria, funcionário público aposentado. No conto "Viagem aos seios de Duília", de Aníbal Machado, ele empreende uma viagem complicadíssima de retorno para buscar no passado, também quase quarenta anos depois, alguma coisa que pudesse lhe dar um sentido para a vida. Que estava tão vazia quanto a cidadezinha que encontrou, marcada pelo marasmo e pelo envelhecimento das coisas, onde "o vazio do mundo pesava sobre o sossego do povoado". Mas não foi isso que encontramos, felizmente.
A volta à terra natal é sempre uma aventura interessante. Pode ser fácil, prazerosa, pode ser perturbada por fantasmas. Em casos extremos, é uma tragédia. Como a vivida por José Maria, funcionário público aposentado. No conto "Viagem aos seios de Duília", de Aníbal Machado, ele empreende uma viagem complicadíssima de retorno para buscar no passado, também quase quarenta anos depois, alguma coisa que pudesse lhe dar um sentido para a vida. Que estava tão vazia quanto a cidadezinha que encontrou, marcada pelo marasmo e pelo envelhecimento das coisas, onde "o vazio do mundo pesava sobre o sossego do povoado". Mas não foi isso que encontramos, felizmente.
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