Emanuel Medeiros Vieira
Imperfeitos,
singraram o Atlântico,
mãos ansiosas, mapeando novas terras,
bússolas afetivas,
acalentando sonhos distantes,
peles queimadas,
gosto de sal na boca
(tanto mar, tanto mar),
febre, malária, fibra e pranto.
Na cadeira de balanço -
depositário da memória da tribo,
contemplo a caravela de madeira, pai, mãe, tio violinista,
um agregado louco,
penso no Atlântico,
velas ao vento,
astrolábios,
à beira do poço do passado,
mais fundo do que o suportável pela memória – não acaba
nunca -, proclamo,
“terra à vista, terra à vista”.
(Alvíssaras)
segunda-feira, 23 de junho de 2008
quarta-feira, 18 de junho de 2008
De padre, bispo, contador de histórias a ouvidor
Um de meus cunhados vendeu o carrinho e pagou um curso sobre motivação, auto-ajuda, liderança. Na cerimônia de encerramento iniciou seu depoimento dizendo que havia se matriculado no curso porque queria ser guru.
Nunca pretendi ser guru no sentido estrito, mas alguma coisa assemelhada. Primeiro foi um efêmero interesse em ser padre. Não parecia ser muito difícil pronunciar uma prédica: “Caríssimos irmãos. Naquele tempo, Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ali ensinava aos sábados”. A temática era permanente, só mudando a exemplificação de acordo com as circunstâncias de momento. O interesse foi fortemente reforçado quando apareceu em Lavras o Bispo Dom Antonio Zattera. Nos anos 50 Lavras do Sul pertencia à arquidiocese de Pelotas. O bispo chegou à cidade como um potentado. O imenso carro americano de suspensão macia, que balançava suavemente ao frear, antecipava, com os recursos da época, os atuais sensores de estacionamento. Como naqueles tempos de poucos automóveis fazer baliza era um exercício de retórica, mais útil era um dos seus recursos, um pedacinho de arame retorcido que, fixado junto aos paralamas, indicava com um barulhinho quando o carro estivesse próximo a encostar nos meios-fios altos.
A figura do bispo me impressionou, principalmente pelas meias de cor grená. O impacto causado pela cor daquelas meias quase me fez entrar imediatamente no
seminário mais próximo. Depois refleti melhor e vi que chegar a bispo não era tão automático assim quanto escalar degraus em uma carreira hierarquizada com mais oportunidades, como a dos militares. Havia o risco de permanecer eterno cura de aldeia. E com um visual rotundo, conseqüência dos almoços dominicais oferecidos pelas fiéis paroquianas.
Na adolescência quis ser contador de histórias. No Brasil era publicada a versão nacional da Popular Mechanics, revista norte-americana que lá pelas décadas de 50 e 60 tinha uma certa obsessão com a hipótese de uma hecatombe nuclear. Lembro que uma das reportagens tratou de um exercício em que a revista pedia a alguns especialistas em incursões no mato, atividade que nos Estados Unidos sempre foi muito popular, para simular a necessidade de uma evacuação da cidade em pouco tempo, algo como uns 20 minutos. O exercício consistia em ver que itens ele comprariam rapidamente em um supermercado para fugir da cidade e sobreviver nas cercanias por umas duas semanas, tempo em que se estimava que a radiação não oferecesse mais tanto perigo. Não lembro se teriam que passar no caixa e pagar as mercadorias, afinal seria uma situação de pânico e o vendedor não teria onde descontar o cheque, enfim, o pessoal pegava lanternas, pilhas, barbante, facão, estas coisas. Provavelmente também muitos enlatados. O restante do exercício consistia em ver se efetivamente conseguiam sobreviver contando somente com aqueles apetrechos.
Na ficção científica o tema foi recorrente. Imaginava-se, então, que tipos de profissionais seriam importantes no caso da devastação nuclear. Um deles, que hoje os avanços tecnológicos modificam sua atuação, era o arquivista, ou o bibliotecário, porque seria da maior importância imediatamente começar a coletar e classificar o conhecimento remanescente. Basicamente livros. Outro, também considerado da maior importância, era o artista, o cantador, o tocador de violão, enfim alguém que pudesse estimular a agregação dos sobreviventes em torno de um fogueira arquetípica. Nesta acepção, um contador de histórias seria bem vindo. A humanidade, i.e o que restou dela, iria presenciar o retorno da transmissão do conhecimento e do entretenimento por via oral.

Achei atraente a possibilidade. Lia muito, achava que teria muita coisa para contar. E era a chance de ter uma ocupação útil e reconhecida, pois a depender de outras qualificações seria um “homem sem qualidades”, como o título do livro do escritor austríaco Robert Musil. Mas, toda esta visão era idílica. Hoje, filmes como Mad Max e O Exterminador do Futuro projetam a imagem de um futuro sombrio.
O período como professor até que permitiu exercitar o ofício da linguagem. Nas ciências sociais, pela necessidade de referência a processos sociais e comportamentos, era mandatório contar histórias. A Universidade de Brasília experimentou o teatro para discussão de temas de Sociologia. Filmes também foram muito utilizados com este propósito. “Bagdá Café”, por exemplo, é um prato cheio.
Para quem tem algum interesse em conhecer um pouco melhor as circunstâncias da arte
da oratória ou mais especificamente da pregação religiosa, vale ler o Padre Antonio Vieira, que dedicou um sermão inteiro, o Sermão da Sexagésima, ao tema da eficácia do pregador: “no pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, e ciência que tem, a matéria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala”.
Mas, como dizia o saudoso João Saldanha, vida que segue... Não chegando a “cantador de alvoradas, relentos / rimas ricas, sonora canção / trovador de invejável talento / orador que desperta a nação”, como na “Cantoria do Galo”, de Augusto Jatobá, eis que o parafuso deu uma volta e o Altíssimo, cujos desígnios são insondáveis, transformou o antigo candidato a contador de histórias em uma figura da mais absoluta introspecção. Uma legítima coruja, que, aliás, era o símbolo da Faculdade de Filosofia da UFRGS, onde me formei. Foi então que, por meio de um instrumento legal, uma portaria, ou seja, por um imperativo categórico, fui lotado na Ouvidoria do órgão público onde trabalho. Uma verdadeira inflexão da curva. Justa, contudo. Afinal, não havia conseguido prosélitos, nem seguidores de espécie alguma.
Bueno, agora ando olhando os classificados para ver se é possível encontrar um confessionário usado por bom preço.
Nunca pretendi ser guru no sentido estrito, mas alguma coisa assemelhada. Primeiro foi um efêmero interesse em ser padre. Não parecia ser muito difícil pronunciar uma prédica: “Caríssimos irmãos. Naquele tempo, Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ali ensinava aos sábados”. A temática era permanente, só mudando a exemplificação de acordo com as circunstâncias de momento. O interesse foi fortemente reforçado quando apareceu em Lavras o Bispo Dom Antonio Zattera. Nos anos 50 Lavras do Sul pertencia à arquidiocese de Pelotas. O bispo chegou à cidade como um potentado. O imenso carro americano de suspensão macia, que balançava suavemente ao frear, antecipava, com os recursos da época, os atuais sensores de estacionamento. Como naqueles tempos de poucos automóveis fazer baliza era um exercício de retórica, mais útil era um dos seus recursos, um pedacinho de arame retorcido que, fixado junto aos paralamas, indicava com um barulhinho quando o carro estivesse próximo a encostar nos meios-fios altos.
A figura do bispo me impressionou, principalmente pelas meias de cor grená. O impacto causado pela cor daquelas meias quase me fez entrar imediatamente no

seminário mais próximo. Depois refleti melhor e vi que chegar a bispo não era tão automático assim quanto escalar degraus em uma carreira hierarquizada com mais oportunidades, como a dos militares. Havia o risco de permanecer eterno cura de aldeia. E com um visual rotundo, conseqüência dos almoços dominicais oferecidos pelas fiéis paroquianas.
Na adolescência quis ser contador de histórias. No Brasil era publicada a versão nacional da Popular Mechanics, revista norte-americana que lá pelas décadas de 50 e 60 tinha uma certa obsessão com a hipótese de uma hecatombe nuclear. Lembro que uma das reportagens tratou de um exercício em que a revista pedia a alguns especialistas em incursões no mato, atividade que nos Estados Unidos sempre foi muito popular, para simular a necessidade de uma evacuação da cidade em pouco tempo, algo como uns 20 minutos. O exercício consistia em ver que itens ele comprariam rapidamente em um supermercado para fugir da cidade e sobreviver nas cercanias por umas duas semanas, tempo em que se estimava que a radiação não oferecesse mais tanto perigo. Não lembro se teriam que passar no caixa e pagar as mercadorias, afinal seria uma situação de pânico e o vendedor não teria onde descontar o cheque, enfim, o pessoal pegava lanternas, pilhas, barbante, facão, estas coisas. Provavelmente também muitos enlatados. O restante do exercício consistia em ver se efetivamente conseguiam sobreviver contando somente com aqueles apetrechos.
Na ficção científica o tema foi recorrente. Imaginava-se, então, que tipos de profissionais seriam importantes no caso da devastação nuclear. Um deles, que hoje os avanços tecnológicos modificam sua atuação, era o arquivista, ou o bibliotecário, porque seria da maior importância imediatamente começar a coletar e classificar o conhecimento remanescente. Basicamente livros. Outro, também considerado da maior importância, era o artista, o cantador, o tocador de violão, enfim alguém que pudesse estimular a agregação dos sobreviventes em torno de um fogueira arquetípica. Nesta acepção, um contador de histórias seria bem vindo. A humanidade, i.e o que restou dela, iria presenciar o retorno da transmissão do conhecimento e do entretenimento por via oral.

Achei atraente a possibilidade. Lia muito, achava que teria muita coisa para contar. E era a chance de ter uma ocupação útil e reconhecida, pois a depender de outras qualificações seria um “homem sem qualidades”, como o título do livro do escritor austríaco Robert Musil. Mas, toda esta visão era idílica. Hoje, filmes como Mad Max e O Exterminador do Futuro projetam a imagem de um futuro sombrio.
O período como professor até que permitiu exercitar o ofício da linguagem. Nas ciências sociais, pela necessidade de referência a processos sociais e comportamentos, era mandatório contar histórias. A Universidade de Brasília experimentou o teatro para discussão de temas de Sociologia. Filmes também foram muito utilizados com este propósito. “Bagdá Café”, por exemplo, é um prato cheio.
Para quem tem algum interesse em conhecer um pouco melhor as circunstâncias da arte

da oratória ou mais especificamente da pregação religiosa, vale ler o Padre Antonio Vieira, que dedicou um sermão inteiro, o Sermão da Sexagésima, ao tema da eficácia do pregador: “no pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, e ciência que tem, a matéria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala”.
Mas, como dizia o saudoso João Saldanha, vida que segue... Não chegando a “cantador de alvoradas, relentos / rimas ricas, sonora canção / trovador de invejável talento / orador que desperta a nação”, como na “Cantoria do Galo”, de Augusto Jatobá, eis que o parafuso deu uma volta e o Altíssimo, cujos desígnios são insondáveis, transformou o antigo candidato a contador de histórias em uma figura da mais absoluta introspecção. Uma legítima coruja, que, aliás, era o símbolo da Faculdade de Filosofia da UFRGS, onde me formei. Foi então que, por meio de um instrumento legal, uma portaria, ou seja, por um imperativo categórico, fui lotado na Ouvidoria do órgão público onde trabalho. Uma verdadeira inflexão da curva. Justa, contudo. Afinal, não havia conseguido prosélitos, nem seguidores de espécie alguma.
Bueno, agora ando olhando os classificados para ver se é possível encontrar um confessionário usado por bom preço.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Aquiles
Emanuel Medeiros Vieira
À vida calma, optou pela guerra: Aquiles.
Tétis, tua mãe, matava seus filhos querendo imortalizá-los,
mas quando nasceu o sétimo, resolve banhá-lo no Rio Stix,
segurando-o pelos calcanhares:
seu corpo não é mais vulnerável
(fica apenas com um único ponto fraco).
Esta mesma mãe te adverte, antes que partas para Tróia:
“Morrerás em breve, mas tua fama será eterna.”
(Escolhes a fama e a morte rápida.)
E o guerreiro comandará frota de 50 navios.
Não indo para a luta, teu destino será a morte por velhice.
Aquiles: o oráculo avisou teu pai, Peleu, que morrerias
junto aos muros de Tróia.
O pai tenta ludibriar a profecia: disfarça-te como mulher e te esconde.
(Outro oráculo disse a Ulisses que Tróia não seria conquistada, se Aquiles não fosse junto.)
Voluntarioso, não escutaste a ordem de Apolo para não
seguires adiante.
Segues: então, o deus guia uma flecha para o teu calcanhar,
guerreiro Aquiles.
É a mão de Páris que a envia, e a flecha revela teu
ponto fraco e tua finitude, que não te permitiu a
velhice.
Te apaixonas pela filha de Príamo, Polixena,
mas o amor não é mais possível:
o tempo é de guerra.
Tróia está perdida,
como o destino de todas as gerações que
“caem como as folhas das árvores”.
(Homero na “Ilíada”.)
Então, Ulisses desce ao Hades e encontra os mortos da guerra de Tróia.
À vida calma, optou pela guerra: Aquiles.
Tétis, tua mãe, matava seus filhos querendo imortalizá-los,
mas quando nasceu o sétimo, resolve banhá-lo no Rio Stix,
segurando-o pelos calcanhares:
seu corpo não é mais vulnerável
(fica apenas com um único ponto fraco).
Esta mesma mãe te adverte, antes que partas para Tróia:
“Morrerás em breve, mas tua fama será eterna.”
(Escolhes a fama e a morte rápida.)
E o guerreiro comandará frota de 50 navios.
Não indo para a luta, teu destino será a morte por velhice.
Aquiles: o oráculo avisou teu pai, Peleu, que morrerias
junto aos muros de Tróia.
O pai tenta ludibriar a profecia: disfarça-te como mulher e te esconde.
(Outro oráculo disse a Ulisses que Tróia não seria conquistada, se Aquiles não fosse junto.)
Voluntarioso, não escutaste a ordem de Apolo para não
seguires adiante.
Segues: então, o deus guia uma flecha para o teu calcanhar,
guerreiro Aquiles.
É a mão de Páris que a envia, e a flecha revela teu
ponto fraco e tua finitude, que não te permitiu a
velhice.
Te apaixonas pela filha de Príamo, Polixena,
mas o amor não é mais possível:
o tempo é de guerra.
Tróia está perdida,
como o destino de todas as gerações que
“caem como as folhas das árvores”.
(Homero na “Ilíada”.)
Então, Ulisses desce ao Hades e encontra os mortos da guerra de Tróia.
O Pavão e Dorothy Lamour
O Brasil inteiro tomou conhecimento de “O Romance do Pavão Mysterioso”, música de Ednardo, quando ela foi incluída na trilha sonora da novela Saramandaia, em 1976. O LP original, porém, havia sido lançado em 1974. Pouco antes, em 1973, Fagner lançara seu primeiro disco: “O Último Pau-de-Arara” ou “Manera Fru Fru Manera”. Seu sucesso, coincidentemente, foi acontecer no mesmo ano da novela, 1976, impulsionado pela repercussão da música “Canteiros”, executada pelas rádios de todo o País.
A trilha sonora da novela
Antes destes fatores de marketing impulsionarem as vendas, tentativas maternas procuravam auxiliar na divulgação paroquial dos referidos discos. Fagner e Ednardo moravam na mesma rua, a Artur Timóteo, no bairro de Fátima em Fortaleza. As respectivas genitoras, para ajudá-los, colocam seus discos na vitrola em alto som para que quem passasse pudesse ouvir. A, digamos, testemunha auricular desta história nasceu em Oeiras, Piauí, e passou a adolescência na capital do Ceará. Em sua festa de 15 anos , Maria Edirlene também teve sua epifania sonora: “na minha casa havia uma radiola (toca discos) e rádio em um móvel enorme. Era um "buffet" grande, com portinhas, quase uma arca, que tinha uma caixa de som na parte de baixo (metade inferior do móvel e em toda a largura do mesmo) que me parecia bastante potente na época. Há uma foto na qual eu estou colocando um LP nesse 'móvel'. Mas era só uma pose para foto! Para animar a festa, um amigo trouxe um daqueles aparelhos de som "modernos" dos anos 70, com caixas de som possantes e muitos fios. Mas sinto saudades daquele móvel”.
Além da música-título, o disco “O Romance do Pavão Mysterioso” tem outras faixas notáveis, realçadas pela voz melodiosa de Ednardo: Carneiro, Mais um frevinho danado, Ausência, Varal (“no umbral da porta já torta / à sombra, o sombrio olhar / e no olhar coisas mortas /que ninguém irá velar”), Alazão e A Palo Seco. Além da belíssima “Dorothy Lamour”.
O Pavão original
Dorothy Lamour era estrela do cinema norte-americano: Mary Leta Dorothy Slaton, que nos anos 40 esteve no auge (lá). Viveu até os 81 e faleceu em 1996. A composição Dorothy Lamour é de Petrucio Maia e Fausto Nilo. É de ouvir com o lenço na mão.
O Pavão Mysterioso ainda teve gravações de Elba Ramalho, Ney Matogrosso e até de Fernanda Takai. Ednardo voltou a gravá-lo em outro disco excepcional: “O Pessoal do Ceará”, de 2002, com a participação de Belchior e Amelinha.
O reencontro do Pessoal do Ceará
Entonces, escute o disco, qualquer um dos três que todos já foram editados em CD, e leia o livro. Que livro? Machado, de preferência. Ou então: “Música perdida”, de Luiz Antonio de Assis Brasil, da L&PM.

Antes destes fatores de marketing impulsionarem as vendas, tentativas maternas procuravam auxiliar na divulgação paroquial dos referidos discos. Fagner e Ednardo moravam na mesma rua, a Artur Timóteo, no bairro de Fátima em Fortaleza. As respectivas genitoras, para ajudá-los, colocam seus discos na vitrola em alto som para que quem passasse pudesse ouvir. A, digamos, testemunha auricular desta história nasceu em Oeiras, Piauí, e passou a adolescência na capital do Ceará. Em sua festa de 15 anos , Maria Edirlene também teve sua epifania sonora: “na minha casa havia uma radiola (toca discos) e rádio em um móvel enorme. Era um "buffet" grande, com portinhas, quase uma arca, que tinha uma caixa de som na parte de baixo (metade inferior do móvel e em toda a largura do mesmo) que me parecia bastante potente na época. Há uma foto na qual eu estou colocando um LP nesse 'móvel'. Mas era só uma pose para foto! Para animar a festa, um amigo trouxe um daqueles aparelhos de som "modernos" dos anos 70, com caixas de som possantes e muitos fios. Mas sinto saudades daquele móvel”.
Além da música-título, o disco “O Romance do Pavão Mysterioso” tem outras faixas notáveis, realçadas pela voz melodiosa de Ednardo: Carneiro, Mais um frevinho danado, Ausência, Varal (“no umbral da porta já torta / à sombra, o sombrio olhar / e no olhar coisas mortas /que ninguém irá velar”), Alazão e A Palo Seco. Além da belíssima “Dorothy Lamour”.

Dorothy Lamour era estrela do cinema norte-americano: Mary Leta Dorothy Slaton, que nos anos 40 esteve no auge (lá). Viveu até os 81 e faleceu em 1996. A composição Dorothy Lamour é de Petrucio Maia e Fausto Nilo. É de ouvir com o lenço na mão.
O Pavão Mysterioso ainda teve gravações de Elba Ramalho, Ney Matogrosso e até de Fernanda Takai. Ednardo voltou a gravá-lo em outro disco excepcional: “O Pessoal do Ceará”, de 2002, com a participação de Belchior e Amelinha.

Entonces, escute o disco, qualquer um dos três que todos já foram editados em CD, e leia o livro. Que livro? Machado, de preferência. Ou então: “Música perdida”, de Luiz Antonio de Assis Brasil, da L&PM.
terça-feira, 3 de junho de 2008
PLANALTO
Emanuel Medeiros Vieira
O Planalto é sempre:
antes e depois,
pedras, rios, sol, entardecer, pessoas
(céu sem mediação, espaços abertos,
seca, chuva, manga madura no chão.)
O Planalto não passa:
nós é que passamos.
O pó volta a terra,
mas queremos permanecer: algo de papel,
algo de carne, um jeito de menino que foi
nosso, riso, boininha, gaita-de-boca
ah, um desajeitamento,
estranho no mundo, um lenço,
cheiro de naftalina no guarda-roupa,
macaco em loja de louça.
Já faz tempo que o homem existe,
mas o Planalto é mais antigo.
E uma ilha,
que fica ao Sul do efêmero,
pandorga, vento, tainha
inundado de água: aqui,
no Planalto,
que não passa,
nós é que passamos.
(Brasília, 30 anos depois de chegar
ao Planalto Central – maio de 2008)
O Planalto é sempre:
antes e depois,
pedras, rios, sol, entardecer, pessoas
(céu sem mediação, espaços abertos,
seca, chuva, manga madura no chão.)
O Planalto não passa:
nós é que passamos.
O pó volta a terra,
mas queremos permanecer: algo de papel,
algo de carne, um jeito de menino que foi
nosso, riso, boininha, gaita-de-boca
ah, um desajeitamento,
estranho no mundo, um lenço,
cheiro de naftalina no guarda-roupa,
macaco em loja de louça.
Já faz tempo que o homem existe,
mas o Planalto é mais antigo.
E uma ilha,
que fica ao Sul do efêmero,
pandorga, vento, tainha
inundado de água: aqui,
no Planalto,
que não passa,
nós é que passamos.
(Brasília, 30 anos depois de chegar
ao Planalto Central – maio de 2008)
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Maio (1968)
Emanuel Medeiros Vieira(*)
Há datas que não passam em branco.
1968.
40 anos: 2008
Sinceramente, vivi intensamente aquele período, dia e noite (escrevendo, panfletando, indo pra rua enfrentar a polícia, fazendo cursos pré-vestibulares para pobres, criando cine-clubes, ativando grêmios literários)-, eu e 'thurma', Eduardo Dutra Aydos, Alberto Pedroso Albuquerque, Edgar Pontes Magalhães - na faculdade de Direito; André Forster, Ciências Sociais, (tão querido amigo, depois quando ia na na ilha pelo IEPES, só parava lá em casa, e ia quase todo o mês, década de 70), Flávio Wolf Aguiar, Letras.
Não quero esquecer de alguém de uma geração um pouquinho anterior, muito digno e muito sensível, Clóvis Paim Grivot.
E, certamente, esqueci de outros.
E assistia às belíssimas aulas do Xausa e do Tavares...
MAIO
(Prosa poética: 1968-2008)
Emanuel Medeiros Vieira*
Para Celso Martins
(Em 10 de maio de 1968,
estudantes ocupavam a Sorbonne.)
Desejávamos soprar a poeira da eternidade.
Seja realista: exija o impossível,
passeatas, cassetetes, éramos eternos.
Comíamos o pão de cada dia
com a flor da utopia na lapela.
“A imaginação no poder”,
(o apelo),
mas nossos amigos não estão no poder.
Destinos rabiscados, entes descartáveis,
grãos de areia na imensa praia global?
Alguém narra (não história de ninar):
“Deslumbrados, complacentes com tenebrosas
transações, neo-pelegos” – o tom é panfletário e
me exaspera.
Fragmentados, ilhados: o barco fez água,
comitês de sonhos viraram praças de
vorazes burocratas,
o povo servindo aos donos da pátria,
crendo que a servem.
No muro, li:
“Acorda, Lênin: eles enlouqueceram.”
A barricada fecha a rua, mas abre a via.
Cerração dissipada, abre-se o sol no Planalto Central do País,
alguém solta uma pandorga,
lembro-me de uma regata assistida aos sete anos,
na Baía Sul de outra ilha – a memória, esta vida .
(Brasília, maio de 2008)
*Escritor catarinense residente em Brasília
Há datas que não passam em branco.
1968.
40 anos: 2008
Sinceramente, vivi intensamente aquele período, dia e noite (escrevendo, panfletando, indo pra rua enfrentar a polícia, fazendo cursos pré-vestibulares para pobres, criando cine-clubes, ativando grêmios literários)-, eu e 'thurma', Eduardo Dutra Aydos, Alberto Pedroso Albuquerque, Edgar Pontes Magalhães - na faculdade de Direito; André Forster, Ciências Sociais, (tão querido amigo, depois quando ia na na ilha pelo IEPES, só parava lá em casa, e ia quase todo o mês, década de 70), Flávio Wolf Aguiar, Letras.
Não quero esquecer de alguém de uma geração um pouquinho anterior, muito digno e muito sensível, Clóvis Paim Grivot.
E, certamente, esqueci de outros.
E assistia às belíssimas aulas do Xausa e do Tavares...
MAIO
(Prosa poética: 1968-2008)
Emanuel Medeiros Vieira*
Para Celso Martins
(Em 10 de maio de 1968,
estudantes ocupavam a Sorbonne.)
Desejávamos soprar a poeira da eternidade.
Seja realista: exija o impossível,
passeatas, cassetetes, éramos eternos.
Comíamos o pão de cada dia
com a flor da utopia na lapela.
“A imaginação no poder”,
(o apelo),
mas nossos amigos não estão no poder.
Destinos rabiscados, entes descartáveis,
grãos de areia na imensa praia global?
Alguém narra (não história de ninar):
“Deslumbrados, complacentes com tenebrosas
transações, neo-pelegos” – o tom é panfletário e
me exaspera.
Fragmentados, ilhados: o barco fez água,
comitês de sonhos viraram praças de
vorazes burocratas,
o povo servindo aos donos da pátria,
crendo que a servem.
No muro, li:
“Acorda, Lênin: eles enlouqueceram.”
A barricada fecha a rua, mas abre a via.
Cerração dissipada, abre-se o sol no Planalto Central do País,
alguém solta uma pandorga,
lembro-me de uma regata assistida aos sete anos,
na Baía Sul de outra ilha – a memória, esta vida .
(Brasília, maio de 2008)
*Escritor catarinense residente em Brasília
quinta-feira, 15 de maio de 2008
“Românticos de Cuba, Brasil e adjacências” – um show!
Tanto se falou de amor e dor, tanta poesia foi criada, tantos corações ora palpitantes, ora dilacerados, debateram-se em um sobe-desce de emoções, tão bem identificadas nas músicas de “Românticos de Cuba, Brasil e adjacências” bem como nos textos que as entremeiam.
Em Brasília, uma platéia atenta e emocionada acompanhou o show do tenor Cassiano Barbosa. Durante a apresentação verificaram-se cenas explícitas de intensa dor de cotovelo. Na seqüência, algumas seqüelas foram constatadas, como forte dependência emocional.
Mas, quem é Cassiano Barbosa? Mineiro de Carangola, brasiliense de coração, Cassiano é um dos fundadores do Coral da UnB, Serenata de Natal, do Coro Masculino de Brasília e do Coral Brasília. Estudou canto nos EUA, nas Universidades de Cornell, Ithaca, NY e do Missouri, Columbia. Participou como solista em obras de Haydn – Salve Regina; Puccini – Gianni Schichi e Madama Butterfly; Donizetti - Lucia de Lammermoor; Verdi - La Traviata; Rossini – Barbeiro de Sevilha, entre outras. Atuou ainda, em musicais como Oklahoma, de Rodgers e Hammerstein; Sweeney Todd, de Sondheim e Wheeler; A Bela e a Fera de Menken, Ashman e Rice; Jesus Cristo Superstar e O Fantasma da Ópera, ambas de Weber. Protagonizou também os shows com os mais variados estilos musicais, todos sucessos de público e crítica: Dois Tenores contra uma Pianista, ou É Brega mas eu Gosto; Alto Astral de Natal, Os Menestréis do Rádio e Elas e Eles, além do mais recente, Românticos de Cuba, Brasil e adjacências. Teve como professores de canto Francisco Frias, Costanza Cuccaro, Maralin Niska, Karen Holvich e Marconi Araújo. Considera que sua maior glória, no entanto, é ser pai da Sofia, energética adolescente e marido de Daphne, a paciência em pessoa.
O vídeo abaixo apresenta “Por una cabeza”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera. A seleção do texto de apresentação é de Célia Campos. Cassiano é acompanhado ao piano por Deyvison Miranda.
Em Brasília, uma platéia atenta e emocionada acompanhou o show do tenor Cassiano Barbosa. Durante a apresentação verificaram-se cenas explícitas de intensa dor de cotovelo. Na seqüência, algumas seqüelas foram constatadas, como forte dependência emocional.
Mas, quem é Cassiano Barbosa? Mineiro de Carangola, brasiliense de coração, Cassiano é um dos fundadores do Coral da UnB, Serenata de Natal, do Coro Masculino de Brasília e do Coral Brasília. Estudou canto nos EUA, nas Universidades de Cornell, Ithaca, NY e do Missouri, Columbia. Participou como solista em obras de Haydn – Salve Regina; Puccini – Gianni Schichi e Madama Butterfly; Donizetti - Lucia de Lammermoor; Verdi - La Traviata; Rossini – Barbeiro de Sevilha, entre outras. Atuou ainda, em musicais como Oklahoma, de Rodgers e Hammerstein; Sweeney Todd, de Sondheim e Wheeler; A Bela e a Fera de Menken, Ashman e Rice; Jesus Cristo Superstar e O Fantasma da Ópera, ambas de Weber. Protagonizou também os shows com os mais variados estilos musicais, todos sucessos de público e crítica: Dois Tenores contra uma Pianista, ou É Brega mas eu Gosto; Alto Astral de Natal, Os Menestréis do Rádio e Elas e Eles, além do mais recente, Românticos de Cuba, Brasil e adjacências. Teve como professores de canto Francisco Frias, Costanza Cuccaro, Maralin Niska, Karen Holvich e Marconi Araújo. Considera que sua maior glória, no entanto, é ser pai da Sofia, energética adolescente e marido de Daphne, a paciência em pessoa.
O vídeo abaixo apresenta “Por una cabeza”, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera. A seleção do texto de apresentação é de Célia Campos. Cassiano é acompanhado ao piano por Deyvison Miranda.
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