Como nas fábulas, tudo começou quando presenteei um colega com a fita do Elomar, “Das barrancas do Rio Gavião”. Isto foi lá pelo final dos anos 70. O camarada, que conhecia bem nosso panorama musical, tendo mantido no exterior um programa de rádio a respeito, fez um estardalhaço: “que coisa fantástica, como tinha descoberto aquele disco?” Mais do que lisonjeado, fiquei surpreso. Tinha lido alguma coisa a respeito em algum lugar. A receita era simples: para encontrar boas coisas é preciso consultar boas fontes. Aparentemente muitos não seguem a regrinha. À época existia uma cobertura ampla dos lançamentos de discos, como a da revista Somtrês. Atualmente a melhor aposta tem sido por meio dos jornais. O Estadão, por exemplo, é excelente na cobertura de lançamentos.

Assim, comprando um aqui outro acolá, desenvolvi o gosto pelas novidades e acalentei um sonho que não se concretizou: ter lançamentos de todos os cantos do país, o que foi realizado de forma admirável pelas coletâneas de Marcus Pereira: Música Popular do Sul, Música Popular do Nordeste e Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste. Meu projeto, que incluía discos e livros do mesmo Estado, ficou só na intenção.
Apesar de a Internet ter facilitado muita coisa, existe um mercado que está fora da rede, principalmente as manifestações culturais regionais. No processo de busca pelas novidades tive a sorte de contar com várias colaborações. O que me permitiu conseguir, por exemplo, Grupo Acaba - Os Canta-dores do Pantanal, de Mato Grosso do Sul, João Bá, da Bahia, Socorro Lira, de Campina Grande, Elino Julião, do Rio Grande do Norte, e Giovanna Farias, filha de Vital Farias, atualmente em João Pessoa da Paraíba. Ganha-se, afinal, algum conhecimento no ramo.

De sua parte, gostava de meus “causos” e da movimentação que fazia para conseguir discos daqueles artistas desconhecidos. Um belo dia resumiu tudo em uma exclamação: “mas você é um especialista em segundo escalão”!
A amizade perdurou, mesmo após sua saída do MCT. Grande contador de histórias, Belizário foi finalmente chamado pelo Altíssimo. Certamente para ajudar a entreter aqueles espíritos pios que, em meio a constantes louvores ao Senhor, ainda têm uma eternidade pela frente.
Por ocasião da missa de 7º dia em sua memória, a família distribuiu um folhetinho que reproduzia , de um dos seus textos, um legado comportamental:
Ao amigo camarada: que tenha muitos natais, viva cinco ou seis mil anos – se puder, um pouco mais; vote em muitas eleições, brinque muitos carnavais, acampe em claras planícies e vales imperiais; tenha roçado e fazenda, muitas frutas tropicais, armada, cavalaria, castelos medievais, dezenas de anéis nos dedos, de variados metais, muito dinheiro no bolso e objetos pessoais, seu retrato nas revistas, entrevistas nos jornais; que tenha uma sogra só, pois uma já é demais; brigue em briga de boteco, porém, na guerra, jamais; que tenha sortes constantes e azares eventuais, pois é próprio deste tempo ter os dias desiguais; que implante mil plataformas em mares fundamentais; curta bem sua poesia, sua paz, sua alegria, seus recursos naturais.
Belizário falou e disse.
2 comentários:
Não conheço nenhum dos que falaste, Raimundo. Como já te disse, admiro tua cultura, tanto literária, quanto musical.
Belisário falou e disse!
Feliz Aniversário!
Abraços.
OI! RAIMUNDO,
Amei demais o folhetinho destribuido por ocasião da missa de sétimo dia
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