Em Lavras do Sul, na Praça das Bandeiras, dia 11 de junho, 30 casais que estavam juntos há muito anos, mas não tinham condições financeiras para o registro civil da união, participaram de uma cerimônia de casamento coletivo.
A iniciativa mobilizou várias instituições e profissionais diversos: Emater/RS-Ascar, representada por Mariluce Chagas e José Luiz Lourenço, Cartório de Registro Civil e Gabinete da vereadora Fátima, com apoio das secretarias de Educação e Turismo, Sindicato dos Trabalhadores Rorais e Rotary Clube Terra do Ouro. Além disso, manicures, barbeiros e cabeleireiros trabalharam voluntariamente. O comércio local garantiu refrigerantes, bolo, taças e espumante. Graças ao patrocínio da Profa. Jurema Chiapetta as noivas receberam vestidos e os homens ternos ou trajes típicos gaúchos. Não havendo disponibilidade suficiente na cidade, foi necessário deslocar as noivas até o município vizinho de Caçapava do Sul para a prova dos trajes nupciais.
O casal José Emílio e Felisbina, com a filha Diana, todos quilombolas
A participação popular na Praça das Bandeiras, decorada para a cerimônia
A cerimônia foi oficiada pelo Cartório do Registro Civil e os casais bençoados pelo Diácono Jerônimo, da diocese de Bagé. Mais de mil pessoas estiveram presentes; lotando as arquibancadas montadas para a ocasião.
A Comissão Organizadora e demais autoridades
Mariluce Chagas (de crachá) junto com o grupo dos casais quilombolas
A confraternização ao final da cerimônia
Uma digressão sobre o assunto
Por que o homem tem tanto medo do casamento? Não parece ser uma herança atávica, isto é, algo que seja herança de nossos mais antigos ancestrais. Nos quadrinhos de Maurício de Sousa existe um casal pré-histórico, Piteco e Tuga, sendo que Tuga corre o tempo todo atrás de Piteco e ele foge o tempo todo do casamento. Esta situação é, obviamente, uma licença poética. Parece mais plausível que naqueles tempos de enormes dificuldades o contrário é que fosse a prática, ou seja, o acasalamento, seja como imitação de algo já existente na natureza, onde muitos animais e pássaros são monogâmicos, seja como uma forma de buscar proteção mútua contra as grandes dificuldades da vida.
O medo masculino do casamento pode chegar a situações de paroxismo, um sentimento levado à sua exaltação máxima. Em Brasília, final do mês de maio, um cidadão casou graças a um estratagema da esposa, que armou uma situação em que ele era convidado a ser padrinho de um casamento. Como já vivia há muitos anos com ela, supostamente não deveria ter mais nenhum medo de se sentir sufocado na vida em comum. A companheira planejou a cena por sete meses, contando com a colaboração de vizinhos, colegas, e principalmente do pastor. O cidadão recebeu um convite de mentira para ser padrinho de casamento e uma falsa madrinha foi indicada para lhe acompanhar. Ele disse que só estranhou quando viu que os noivos não chegavam e a cerimônia religiosa mesmo assim teve início. Aí, foi pego de surpresa quando o pastor perguntou, de forma bem clara, se ele aceitava sua companheira de 25 anos como esposa. “Ele despencou a chorar, ficou frio, travou suas pernas. Com muita dificuldade, conseguiu responder o sim. Quase que não sai”, contou o pastor. O surpreendente é isto: após 25 anos de vida conjugal, na hora de oficializar a união em uma cerimônia religiosa, o cidadão quase entra em estado de choque.
Os que têm medo do casamento alegam o receio de perder sua liberdade. Nada obstante, todas as estatísticas são favoráveis aos casados: vivem mais tempo e com mais saúde.
Existem também os que gostam tanto de família que têm várias. Na literatura, um bom exemplo é o de Seu Quequé, personagem de José Condé no conto Venturas e desventuras do caixeiro-viajante Ezequias Vanderlei Lins, seu Quequé para os íntimos, do livro Pensão Riso da Noite. Por conta de sua profissão viajava muito, o que lhe permitiu estabelecer e manter três famílias: uma em Pernambuco, outra em Sergipe e uma terceira em Alagoas. O conto rendeu duas séries na televisão: “Aventuras Amorosas de Seu Quequé” na TV Cultura, com Osmar Prado no papel de protagonista, e “Rabo de Saia” na Globo, com Ney Latorraca. Seu Quequé acaba preso e julgado mas o final é feliz.
No amor, portanto, a esperança nunca morre.O casamento coletivo de Lavras é mais uma prova.
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