Emanuel Medeiros Vieira*
O que está havendo?
Uma ditadura, por mais cruel que seja, um dia termina. Manda-nos para a cadeia, para a tortura, para o exílio, mas um dia acaba.
Nos tempos em que vivemos, há uma forma de lavagem cerebral, de domínio do fútil, do mero aparecer em detrimento do ser; hegemonia da massificação, democratismo, não democracia. Perigosa e subliminar: penetra os corações e mentes, incentiva o individualismo mais feroz, nega a solidariedade, humilha os mais frágeis. Invade o inconsciente, anestesia as consciências e deseja criar um rebanho de almas. Como todo rebanho: quieto, conformista, passivo e apático, querendo nos fazer crer que a vida já rabiscou todos os destinos.
Não, não rabiscou.
Onde andam os indisciplinadores de almas, de que falava Fernando Pessoa?
Eu sei, remar contra a maré do egoísmo, da velhacaria institucionalizada, não é fácil. A lavagem subliminar mais cruel é aquela que nos faz abençoar àqueles que edificaram a política da morte e da exclusão.
Mas queria perguntar: onde estão aqueles que defendiam o Estado-Mínimo, que nos chamavam de dinossauros, antiquados? Debochavam de qualquer posição humanista. E agora correm atrás, da maneira mais infame e covarde, ao Estado que tanto condenavam.
No “Muro de Berlim” dos neoliberais, do Consenso de Washington, os zumbis bancários se espalham na sala de estar das finanças mundiais. Os cadáveres do capitalismo, um a um, vão apodrecendo. Alguns dos maiores bancos europeus e americanos estão quebrados. E nós?
O consórcio PMDB-PT repete, como papel carbono, o anterior: aquele (PFL-PSDB) que ajudou a vender o país na bacia das almas.
É o projeto liberal-tucano-petista-oligárquico, da modernização conservadora, que quer se manter no poder até o final dos tempos.
Não se enganem: não há diferença entre eles. Talvez, só na extensão da crueldade de seus modelos contra os mais frágeis, como os aposentados. E bajulando os de sempre: banqueiros, latifundiários, usineiros, os políticos corruptos, e agora os donos da mídia.
Ele une a oligarquia paulista à aristocracia escravocrata nordestina, agora ampliada com ex-sindicalistas traidores (pelegos) – os que vergaram a espinha diante do grande capital.
“Eles” podem ter mudado de opinião, mas não podem obrigar os outros a fazer o mesmo.
Lembro-me de um “aviateur” e “écrivain” français (1900-1944) – creio não precisar dar o nome deste grande humanista: “O que atormenta as sopas populares não remedeiam. O que atormenta não são essas faces escavadas, nem essas feiúras. É Mozart assassinado, um pouco em cada um desses homens”.
*Escritor catarinense residente em Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário