Emanuel Medeiros Vieira*
Michel Butor dizia que toda explicação é uma forma de destruição.
Mas sinto que preciso oferecer uma.
Depois de quase todos os textos que publico em alguns blogs, criticando o obsceno modelo imposto no Brasil e o capitalismo selvagem (o “selvagem” não seria redundância?), recebo mensagens de pessoas que dizem também condenar o socialismo , as ditaduras comunistas, os regimes que vigoraram no Leste europeu, garantindo que defendem a democracia.
Eu também...
Não devo ter sido claro. Não suportava muros, como o de Berlim.
Para mim, democracia é um valor universal. Ditaduras são incompatíveis com os valores humanistas, quaisquer que sejam suas origens.
Atravessei o Muro de Berlim, conheci a Alemanha Oriental no inverno europeu de 1976.
Era um regime policialesco, incentivador da delação, que favorecia uma minoria privilegiada.
Conheci a Romênia já em 2000, mas ouvi relatos consistentes de pessoas honradas que viveram o stalinismo corrupto que lá vigorou.
Quando condeno um modelo, é claro, não proponho nenhuma ditadura, nenhuma usurpação da dignidade humana.
É que está internalizada nos corações e mentes, uma espécie de visão maniqueísta da história, da vida, dos regimes.
O buraco é mais embaixo.
O que precisamos é defender, com unhas e dentes, a democracia como valor universal.
Não basta que nossas idéias sejam justas e boas.
Precisamos ser justos e bons. Não só em mesa de bar, mas nas andanças da própria vida.
Não quero stalinismo, não quero muros, não quero a perversa desigualdade social.
Gostaria (sei que não verei) de um modelo que fosse calcado no humano.
Fui claro? Então, continuemos a pensar de maneira generosa, ecumênica e plural, sem preconceitos, sem maniqueísmos, e sem os ‘totalitarismos mentais’ que afetam a nossa visão de mundo.
*Escritor catarinense radicado em Brasília.
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