A revista do Correio Braziliense, edição de 26/10/2008, publicou uma matéria com o título “Vou ali e já volto (ou não!)”, abordando experiências de quem “deu um tempo” e realizou uma “viagem ao centro de si mesmo”. O texto comenta o livro Comer, rezar, amar, da jornalista americana Elizabeth Gilbert. Na entrevista que compõe a matéria, diz Elizabeth Gilbert: “Um ritual que faço todos os dias antes de dormir é escrever em um pedaço de papel o momento mais feliz daquele dia que vivi”.
A idéia é muito interessante. Principalmente porque nos atuais dias depressivos a tendência é de enfatizar o sufoco, o tédio, estas coisas. Também porque felicidade não dá boa literatura.
Experimentando a idéia, registro que meu dia de ontem teve dois momentos expressivos. No primeiro, ganhei de uma colega, Flávia Lacerda, o livro A última grande lição – o sentido da vida, de Mitch Albom. A dedicatória foi comovente: “Toda vez que me chama para ajudá-lo em um conserto da área de informática, ou mesmo quando me pergunta sobre música, ou quando surge com um CD de pura música boa, o senhor não avalia o bem que me proporciona, o quanto me sinto bem por poder compartilhar minhas idéias e impressões com alguém que só tem a me ensinar e acrescentar como pessoa”.
No segundo momento, foi minha vez de dar um livro. Encontrei, em meu confuso acervo (algum dia terei prateleiras e estantes na medida das minhas necessidades), um exemplar de The Future of Man, de Teilhard de Chardin, padre jesuíta, filósofo e palentólogo. Teilhard tentou a ponte entre ciência e religião. Foi incompreendido pelos dois lados. Terminou seus dias em um silêncio obsequioso, recurso utilizado pela Igreja Católica quando entende que alguma voz dissonante deve estar calada. O recurso, no Brasil, foi aplicado ao nosso preclaro Leonardo Boff. O livro, em inglês, presente de um pastor amigo que realizou seu doutorado nos Estados Unidos, ultrapassa minha compreensão do idioma. Teilhard de Chardin usava muitos neologismos conceituais, além de uma escrita não propriamente simples. Não era para as minhas possibilidades. Como me dói na alma ver um livro sem o seu leitor certo, ocorreu-me a feliz idéia de ofertá-lo a outra colega, Carmen Puig, brava catalã de obstinada dedicação à Igreja Católica. Seu contentamento com o mimo foi tão altamente expressivo que lembrou a alegria que só as crianças, em sua pureza, conseguem demonstrar. Felizmente encontrei o leitor certo.
Isto posto, 2x0 para os bons momentos. Outros se seguirão. Quem viver, verá.
3 comentários:
Agora é minha vez de dizer, heee prof. Tadeu, quer me matar tb? hehe... Fico muitooooooo feliz que o senhor tenha gostado... heheh se pudesse avaliar que seria tão bom esta troca de carinho (para ambos, embora eu ache que eu é que ganhei o presente, em vê-lo tão contente), teria escrito bem antes o que sinto/minhas impressões sobre meu querido Mestre, mas ao invés disto optei por bater cabeça a procura de um bom livro, espero que a leitura seja tão gratificante quanto o carinho trocado. Um beijo carinhoso!
Que bom que estás de volta, Raimundo!
Amei a idéia de anotar as coisas felizes do dia e vou adotá-la, deixando minha agenda junto com o Evangelho, aí não tem como esquecer.
Como é bom deixar alguém feliz com um presente! Foi assim que fiquei com o CD. Obrigada mais uma vez!
Um abraço.
Ler o seu "patovelho" é realmente um bom momento. Achei perfeita a dedicatória da sua colega Flávia. Você verdadeiramente inspira e proporciona bons momentos. Quando eu era adolescente costumava escrever pensamentos de Teilhard de Chardin em meus cadernos e livros. Acredito que as freiras do meu colégio também eram apreciadoras do padre filósofo. Eis um de seus pensamentos que eu escrevia sempre nos meus livros de História e do qual eu me lembro até hoje: "O pensamento filosófico é circular. Não podemos encontrar no fim o que não foi colocado no início. Se o homem não for colocado no início, não será encontrado no fim. É a história que busca a unidade das coisas".
Obrigada por mais esse bom momento de leitura.
Maria Edirlene
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