segunda-feira, 19 de maio de 2008

Maio (1968)

Emanuel Medeiros Vieira(*)

Há datas que não passam em branco.
1968.
40 anos: 2008
Sinceramente, vivi intensamente aquele período, dia e noite (escrevendo, panfletando, indo pra rua enfrentar a polícia, fazendo cursos pré-vestibulares para pobres, criando cine-clubes, ativando grêmios literários)-, eu e 'thurma', Eduardo Dutra Aydos, Alberto Pedroso Albuquerque, Edgar Pontes Magalhães - na faculdade de Direito; André Forster, Ciências Sociais, (tão querido amigo, depois quando ia na na ilha pelo IEPES, só parava lá em casa, e ia quase todo o mês, década de 70), Flávio Wolf Aguiar, Letras.
Não quero esquecer de alguém de uma geração um pouquinho anterior, muito digno e muito sensível, Clóvis Paim Grivot.
E, certamente, esqueci de outros.
E assistia às belíssimas aulas do Xausa e do Tavares...

MAIO

(Prosa poética: 1968-2008)
Emanuel Medeiros Vieira*
Para Celso Martins

(Em 10 de maio de 1968,
estudantes ocupavam a Sorbonne.)

Desejávamos soprar a poeira da eternidade.
Seja realista: exija o impossível,
passeatas, cassetetes, éramos eternos.

Comíamos o pão de cada dia
com a flor da utopia na lapela.
“A imaginação no poder”,
(o apelo),
mas nossos amigos não estão no poder.
Destinos rabiscados, entes descartáveis,
grãos de areia na imensa praia global?

Alguém narra (não história de ninar):
“Deslumbrados, complacentes com tenebrosas
transações, neo-pelegos” – o tom é panfletário e
me exaspera.

Fragmentados, ilhados: o barco fez água,
comitês de sonhos viraram praças de
vorazes burocratas,
o povo servindo aos donos da pátria,
crendo que a servem.

No muro, li:
“Acorda, Lênin: eles enlouqueceram.”

A barricada fecha a rua, mas abre a via.

Cerração dissipada, abre-se o sol no Planalto Central do País,
alguém solta uma pandorga,
lembro-me de uma regata assistida aos sete anos,
na Baía Sul de outra ilha – a memória, esta vida .

(Brasília, maio de 2008)

*Escritor catarinense residente em Brasília

Um comentário:

Andrea Leal disse...

Ah, as peripécias da tua geração, meu amigo... me dá uma inveja...
A minha, "geração Coca Cola" está aí, sem rumo, perdida, ídolos falsos, trancada dentro de casa com medo de ladrão, absorvendo todo o lixo que a televisão despeja todos os dias em horário nobre. Minha geração não sabe nem como criar os filhos. Minha geração não sabe quem é, ou a que veio.