Emanuel Medeiros Vieira
Nascido na mitologia grega, há várias versões sobre Sísifo, que foi o fundador de Éfira, que mais tarde veio a chamar-se Corinto.
Ele era considerado o mais astucioso dos homens, mas incorreu na cólera de Zeus. Este lhe impôs no inferno o castigo de ter de rolar até o alto de uma colina uma grande pedra para baixo; essa tarefa recomeçava incessantemente, numa punição eterna.
Albert Camus escreve uma obra célebre sobre o tema, intitulada “O Mito de Sísifo”, que marcou várias gerações (pessoalmente, li esse livro várias vezes), quando o estudo da mitologia e da filosofia era respeitado e valorizado em nossas universidades.
Para muitos, seria ele a metáfora do herói estóico. Sofre o maior dos castigos: ter de rolar até o alto de uma colina uma grande pedra para baixo e, além disso, precisa recomeçar essa tarefa sem parar.
Essa obrigação, dever ou danação, lembra a noção do absurdo.
Para muitos existencialistas, o absurdo é a evidência que desperta. Quer dizer, mesmo que Deus não exista, que o homem seja finito, que a justiça e o bem raramente triunfem, a missão dos viventes não é inútil. Significa que o mérito de uma obra é tê-la feito. Simplesmente isso: tê-la realizado.
Que não se espere gratidão, que não se conte com a valorização alheia por posturas dignas num mundo corrompido. É preciso ter uma ética pessoal, calcada não na retórica, mas na vida. Isto é, é preciso ser autêntico. Por isso Camus, encerra sua bela obra afirmando: “É preciso imaginar Sísifo feliz”.
Então, a vida não é justa, nem injusta. Simplesmente é. Não caberia dizer: “ele é tão bom, não mereceria sofrer”. Porque não adianta. Com estoicismo, é preciso estar preparado para tudo. Essa é a lição que fica.
Num mundo pós-utópico, absolutamente fragmentado, em que a ânsia da totalidade nunca é concretizada, no qual reina o desencanto, e também a resignação e a passividade, a capacidade de resistirmos com ética e honra, se torna, talvez, nossa missão maior neste planeta.
Formou-se uma comunidade de consumidores, não de cidadãos. Em um mundo árido, carente de ideais maiores, o mito de Sísifo torna-se cada vez mais atual.
Noutra versão, Zeus revoltado com Sísifo, ordenou que Tânatos o matasse. Sísifo usando sua astúcia, acorrentou Tânatos (gênio masculino que personificava a morte, irmão de Hippos, o sono), de tal maneira que ninguém mais morria. Seria, o mito de um homem eterno, não finito.
O próprio Zeus teve de compelir Sísifo a libertar Tânatos, que novamente em sua função de pôr termo à vida das criaturas humanas, matou sem demora Sísifo.
De volta à terra, depois de voltar do inferno (Hades), Sísifo viveu, nessa versão, até a extrema velhice.
Brasília, setembro de 2010
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