Emanuel Medeiros Vieira
Para Victor Alegria e a todos os companheiros da jornada às nascentes (de 21 de junho a 1° de julho de 2009)
“Da minha língua vê-se o mar”
(Vergílio Ferreira)
Nossa Pátria é a Língua Portuguesa.
Ou melhor, as “línguas portuguesas”.
Falar de uma viagem preciosa? Um encantamento ou deslumbramento meditado em breve reflexão.
Um personagem de Godard disse que as viagens formam a juventude.
Creio que elas formam a nossa vida toda: enriquecem, e dão uma dimensão maior do mundo, muito maior, inundam o nosso olhar de coisas belas.
Não, não falarei em tudo, e serei fragmentário.
Resumindo? A gente buscou “olhar”, olhar muito, indo ao Portugal profundo, durante 10 intensos e inesquecíveis dias.
Ah, Porto – que belíssima cidade! –, Rio D’Ouro (bate uma imensa vontade de voltar), Alcobaça, Sintra, Coimbra, Fátima,, Braga, Almerim, Mafra, Vila do Conde, Viana do Castelo, Guimarães (berço da nacionalidade lusa). Eu sei, não citei todos os lugares, nem segui a ordem geográfica.
Meu mapa é afetivo, do coração.
Naquele maravilhoso dia passado em Coimbra – universidade fundada em 1° de março de 1290 –, pensava em todos os pés que ali pisaram antes de nós, os poetas românticos, os seres todos.
Pedras, mosteiros, rios, vidas. E seres humanos inesquecíveis, como o guia Carlos (sempre atento e disciplinado), sua terna esposa Inês, os também humanistas, cultos e amorosos professores Carlos e Fernando, o generoso Felipe e a “brasileira” de Alagoas, a querida Manaíra.
Não posso me esquecer do eficiente Rui e dos outros colegas escritores do Porto. E do jantar na UNICEPE, com declamação de poemas.
Não cito nominalmente os companheiros de viagem (mas todos estão no meu coração).
Garçons, motoristas, gente dos hotéis, transeuntes a quem pedíamos informações, passeios variados, amigos queridos feitos na viagem – e não individualizarei para não cometer injustiças. Mas lembro de um emocionado Ligório declamando poemas de autores pernambucanos num inesquecível almoço em Alcobaça.
Poderia falar sobre Sintra, pastéis de Belém, vinhos, bacalhau, café longo, paés deliciosos, a “sopa de pedra”, em Almerim...
Toda narrativa é um ato de escolha. Precisaria de um diário de viagem.
Queria dizer que voltamos “melhores”: mais enraizados em nossas nascentes – ah, nosso destino comum-, nessa Língua tão bela e plural.
Voltamos (somos cidadãos do mundo, nossa pátria é o “exílio”...).
Ah, Tejo.
Visita à Biblioteca Nacional, em Lisboa, à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tão bem recebidos pelo embaixador Lauro Moreira.
(Quem ler, dirá com razão: o cronista esqueceu de tanta coisa! Mas o propósito não foi esgotar o assunto.)
É verdade: sou apenas o redator de um telegrama
Recordar vem do latim “recordis” e significa “tornar a passar pelo coração”.
E é por tantas razões que escrevemos. Para despistar a morte, deixar algo além da poeira do tempo, para amar e ser amado. Escrevemos porque não sabemos por quê...
Porque somos o único animal eu sabe que vai morrer. Somos ontologicamente finitos. Mas nosso obra pode ser infinita. Eterna.
Como esquecer do “Livro na Rua” – ecumênico, plural e democrático – distribuído para o estudantes de Coimbra (e dialogamos com os moços), e em tantos outros lugares?
Não ficará no oblívio, a festa de São João, no Porto. O Café Majestic. As pontes. E chegamos à Galícia, na Espanha.
Somos todos nós que construímos essa Língua, dia a dia.
Foi uma viagem fantástica, No fundo, o mero turista só “registra”. Nós não só registramos. Olhamos, vivemos. E, principalmente, amamos.
Que saudade eu sinto agora olhando o mapa de Portugal!
Esta Língua...
Como diz Eduardo Lourenço, “é ela que vive em nós e não nos que vivemos nela.”
Agradeço a todos os companheiros de viagem (um agradecimento especial ao Victor e à sua dedicada esposa Ises), à Célia, sempre companheira, ao Maurício, terno, humano, o filho que todo pai gostaria de ter.
Encerro: “Isso é coisa normal,/mas anormal, se me entendes,/se tu bem
me compreendes,/agora és de Portugal!
Vê se então outrora/soou-te o sinal da sina/pondo-te na vida uma quina/Portugal, chegou a hora!”
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