O mais recente título de Emanuel Medeiros Vieira, o romance "Olhos Azuis - ao sul do efêmero",impresso pela Thesaurus Editora/FAC, de Brasilia, será lançado no dia 28 de maio, em Florianópolis, durante a Semana de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina. O evento está previsto para as 12 horas, no Hall do Centro de Comunicação e Expressão - CCE. Antes, às 10 e trinta horas, Emanuel participará de uma mesa-redonda sobre literatura no CCE B, térreo.
Texto de apresentação do livro:
UMA CELEBRAÇÃO DA VIDA
Anderson Braga Horta*
Este livro, além de ser um retrato vivido de Emanuel Medeiros Vieira, é uma porção de coisas, das quais uma que outra sou talvez capaz de antecipar, ainda que vagamente, ao leitor destas orelhas. Antes de mais nada (não nos iludam a crispação do texto e a complexidade das idéias que nele se jogam), é uma história de amor, sim.
Dito isso, podemos acrescentar que o romance – trata-se de um romance? – é em boa medida, a discussão da própria estrutura e a história da própria elaboração. O romance fazendo-se. Curiosamente, sobre ele pontifica Júlia, seu núcleo feminino, dirigindo-se ao personagem-narrador:
- “Nas tuas histórias, a rigor, não acontece nada, é mergulho mental, viagem interior.”
Não é só isso, mas é com certeza isso. É toda uma meditação sobre o quotidiano, o não-senso, a injustiça, a miséria, o absurdo de um mundo – o nosso mundo. O que, sem mais dizer, já nos põe em sintonia com tantos dos outros livros do autor – Meus Mortos Caminham Comigo nos Domingos de Verão, Metônia, O Homem Que não Amava Simpósios...
Digamos mais. Que é a história de uma consciência. O repassar de uma vida, numa espécie de Juízo. O fluxo de uma consciência que se retrata. Autocrítica. Catarse. Pois é também tudo isso, e comporta mais. Por exemplo (meio de raspão, embora), a orfandade do escritor brasileiro em face de uma imprensa e de um parque editorial alienados.
O estilo se ajusta ao espírito da narrativa (não entremos na discussão sobre se se trata de uma): linguagem coloquial, “natural”, espontânea, apesar das abundantes citações e alusões culturais... e com os requintes das modernas técnicas de narrar, é claro. Esse estilo é Emanuel falando, disparando sua máquina verbal, as palavras atropelando-se – como se para não perder a oportunidade da vida. O mais intenso desse estilo é uma página eriçada de profundo erotismo, que deixo ao leitor encontrar (ou eleger).
Outra maneira de ver o livro é como uma crua meditação sobre a vida, seu sentido, seu não-sentido. (Será que já não deixei dito? Se já, fique a reiteração, que, afinal, cai a propósito: também as perplexidades e obsessões do personagem-narrador traduzem-se em repetições – de palavras, de idéias, de citações, etc.)
Uma religiosidade latente permeia estas folhas. Às vezes patente, mas antes uma saudade da fé que fé atual. Estarei avançando demais? Se estou, culpe-se o narrador, que se questiona como questiona o próprio gênero literário que navega.
Seja o que for o livro, “página memorialista, poesia tosca e áspera, contos encaixados” – atira o próprio narrador e, ato contínuo, recolhe as balas -, “é gesto humano de trabalho, aventura do espírito”. Sim, um livro que sua e sangra humanidade. Talvez uma oração – longa e sofrida – pela libertação do homem. Em todo caso, creio (veja-se a página final), uma celebração da vida. Com suas contradições, com seus altos e baixos, com suas glórias e mazelas. E com sua perserverante vontade de ascensão.
* Poeta, contista e crítico literário.
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