O Piauí possui muitas virtudes. Aqui, destaco três: suas belezas naturais; mulheres extraordinárias, de personalidade forte, de tal forma que casar com uma delas não é para amadores; e uma plêiade de intelectuais e escritores. Sobre estes últimos, um apanhado geral encontra-se em “Visão histórica da literatura piauiense”, de Herculano Moraes, obra em três tomos. Meu exemplar corresponde à 4ª edição, revista e atualizada, publicada em 1997. No caso específico da produção poética, sugere-se a antologia “A poesia piauiense no século XX”, de Assis Brasil, Imago, Rio de Janeiro, 1995.
Tive a oportunidade de ler alguns dos principais escritores de ficção piauienses. Citando de memória: além do próprio Assis Brasil, Permínio Ásfora, Esdras do Nascimento, O.G. Rêgo de Carvalho e José Expedito Lopes. Há ainda uma vasta produção no campo da história. No entanto, meu interesse privilegiou outras áreas, como um excelente trabalho que retrata uma das principais cidades do interior: “Picos os verdes anos cinquenta”, de Renato Duarte. Em poesia, meu conhecimento é mais restrito embora de qualidade. Em meu acervo um autor do passado e outro contemporâneo: Hermínio Castelo Branco e Elmar Carvalho.
Assis Brasil
Salvo engano de uma traiçoeira memória, meu primeiro contato com a literatura piauiense foi por meio de Assis Brasil, “Tetralogia Piauiense”, obra editada pela Nórdica, em co-edição com o Instituto Nacional do Livro (MEC). Como o título sugere, é a reunião de quatro livros: Beira Rio Beira Vida, A Filha do Meio Quilo, O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão. Atualmente a obra só é encontrada em sebos. Caso o estimado leitor encontre um exemplar, convém não titubear: compre imediatamente e estará servido com ótima literatura.
Assis Brasil, piauiense de Parnaíba
Atualmente Assis Brasil é reverenciado como um grande nome da literatura piauiense, seus romances são adotados em vestibulares e motivos de palestras e estudos acadêmicos, como o da professora Francigelda Ribeiro, que defendeu na Universidade Federal do Piauí a dissertação de mestrado “Tetralogia piauiense: a interface entre o literário e o social’, e é também autora do artigo “Vértice e base na pirâmide social da Tetralogia piauiense de Assis Brasil” (Revista Crioula, maio de 2011, nº 9) e do livro “Memória e Aprendizado: Assis Brasil”. Mas, os primeiros livros de Assis Brasil não foram bem recebidos, principalmente nas localidades retratadas nos romances. Sobre isto diz Herculano Moraes: “Ao focalizar os problemas sociais de sua cidade, universalizando esses conflitos, Assis Brasil sofreu as mesmas incompreensões que Dalton Trevisan amargou no Paraná. Houve em Parnaíba quem se sentisse retratado nos romances do escritor, especialmente em Pacamão e A Filha do Meio Quilo. Gente conhecida, pessoas de certa influência, personalidades públicas que se viam retratadas nas histórias do escritor, apresentaram reações de revolta e vingança. O professor José Maria Vasconcelos relata um exemplo: chegou numa loja para falar com certo cidadão e quando citou o nome de Assis Brasil quase foi enxotado do local”.
Esta situação não é tão incomum no Piauí. Já tive a oportunidade de presenciar exemplo semelhante em outro contexto, bastante próximo no tempo. A ficção baseada na realidade nem sempre é bem aceita, principalmente em sociedades onde prevalecem valores tradicionais. Para evitar problemas deste tipo, filmes e novelas trazem a advertência de que a obra trata de situações fictícias, sem correspondência com pessoas ou fatos.
É oportuno esclarecer que este Assis Brasil é Francisco de Assis Almeida Brasil, posto que no outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, há outro Assis Brasil, Luiz Antonio de Assis Brasil, também de grande renome. Ambos os xarás – ou tocaios, como se diz no RGS – são escritores prolíficos.
Os demais autores mencionados serão objeto de próximas postagens.
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