segunda-feira, 25 de abril de 2011

FUTUROS POSSÍVEIS


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
Torquato Neto

Em “Gaveta dos Guardados”, diz Iberê Camargo, pintor gaúcho: “A memória é a gaveta dos guardados. Nós somos o que somos, não o que virtualmente seríamos capazes de ser. Minha bagagem são os meus sonhos”. Pois também sonhei em ser jogador de futebol. 

 
 Mas, heim? 

Nos jogos infantis em Lavras do Sul, um dos colegas me apelidou de “Copá”, por conta de Raymond Kopa, atacante da seleção francesa de 1954. A semelhança, desnecessário explicar, esgotava-se no primeiro nome. Nos intervalos dos jogos outro colega levava um saquinho de limão para a gente chupar e matar a sede. Servia só para se fazer cara feia. Ninguém desconfiava que o problema não era segurar a sede e sim cuidar da hidratação do corpo. Em uma partida de futebol um jogador de futebol pode perder cerca de 2 kg.

Continuo fissurado em limão. Mas a preferência não veio por conta deste episódio. Quando cursava faculdade, em Porto Alegre, fiz muitas refeições na casa de um colega onde havia um imenso limoeiro bem na frente da sala de refeições. Dê-lhe limão na salada, na comida... Depois foi uma questão de aprimorar o uso do fruto da árvore da família das rutáceas (Citrus limonum).


Nos anos 60 Lavras possuía dois times de futebol regulares: Vasco, por alusão ao Vasco da Gama, e o GEL – Grêmio Esportivo Lavrense, formado predominantemente pelo pessoal do ginásio. Esporadicamente aparecia o Santa Ana, time formado em uma fazenda do interior, o que gerou a suspeita inicial de que seriam uns trogloditas no esporte bretão, capazes de promover uma verdadeira batalha campal, opinião felizmente desfeita de forma cabal com a prática futebolística. Uma vez por outra, os dois primeiros times disputavam partidas em Caçapava do Sul, normalmente como preliminar de outro jogo mais importante. Certa ocasião o Vasco foi a Caçapava e perdeu de 1x0, só não empatando porque Mário Souto, craque do passado já na ocasião da partida, desperdiçou um pênalti. O evento, como tudo em uma cidade do interior, rendeu comentários por muito tempo. Torcida e equipe foram juntas, eu no meio, na carroceria de um caminhão!!!

Na foto abaixo, futebolistas de Lavras do Sul dos anos 60 na data cívica de 7 de Setembro. Ao fundo, de sobretudo, este narrador e testemunha ocular da história, em versão infantil.



No time do Ginásio o goleiro Glênio era o principal jogador. E no time do Vasco o destaque da época também era o goleiro, Teseu, que depois de um acidente em que machucou seriamente o joelho, por conta das péssimas condições do campo de futebol, voltou a jogar em outra posição, a de zagueiro de área. Onde novamente notabilizou-se. O Vasco ainda possuía um ponta-direita muito arisco, razão do seu apelido: Diabinho.


O sonho não foi adiante. Como na música “Espelho”, de João Nogueira, que também pensou um dia em ser um craque da pelota, “foi mais uma vontade que ficou pra trás”.

Vida que segue. Mas, talvez sob o peso de uma astrológica angústia existencial não conseguia vislumbrar nada muito brilhante. Permanecendo em Lavras provavelmente seria professor.  Quem sabe até conseguiria ser eleito vereador por sucessivas vezes. Enfim, um futuro médio, digamos. Na hipótese máxima, se a formação exclusivamente citadina não se tornasse um empecilho, talvez conseguisse casar com uma filha de fazendeiro. 

Estas especulações podem parecem lamúrias. Mas, tinha medo de no futuro distante chegar à situação do General Dureza, do Recruta Zero, tentando afogar as mágoas no bar dos oficiais: “meu casamento é um fracasso, meu golfe é péssimo, minha carreira um desastre...” O Capitão Durindana, procurando consolar o companheiro: “ah! Mas você desabafa muito bem”.

Uma intenção um pouco mais consistente foi a de ser padre.