segunda-feira, 28 de março de 2011

O QUARTEL DE ABRANTES, NOS ANOS 60



Em cidade pequena todo mundo se conhece


Santo de casa (I)


O Dr. Henrique Ribeiro Saraiva, farmacêutico e médico de alta competência, era pessoa de difícil trato. Tolerância zero, com tudo. De suas três filhas conheci duas, Solange e Ismênia. Como andavam quase sempre juntas era difícil conhecer apenas uma. Solange foi minha professora no primário. Uma ocasião levou nossa turma para um lanche em sua casa. Atividade de risco, para ela. Mas correu tudo bem. A casa da família era um luxo, cheia de apetrechos e objetos de decoração. Felizmente nossa turma, que, com notáveis exceções, era composta por bugres e xucros, comportou-se às mil maravilhas. Nada foi quebrado. Talvez tenha contribuído a música clássica na vitrola. Ela já devia saber que a música amansa as feras. Vez por outra pintava alguma atividade recreativa promovida pelo colégio, as melhores eram piqueniques ao ar livre em alguma propriedade próxima da cidade. Era uma festa para a garotada. No cardápio, sardinha com pão.

Piqueniques eram alternativas de lazer. Meu avô Antonio Fagundes costumava, vez por outra, levar a família para um piquenique aos domingos. Íamos a pé, com um agregado levando alimentos, talheres, redes, toalhas, bebidas, tudo em um carrinho de mão. Caminhávamos um bocado, até encontrar um bom local nas margens do arroio Camaquã. Ali passávamos o dia nadando e comendo churrasco. As garrafas de  bebida, para resfriar, eram enterradas à sombra, no leito do rio.


Voltando às irmãs: Ismênia Saraiva era poeta. Publicava crônicas e poesias no jornal local. Para rememorar, alguns trechos da poesia publicada em “O Garimpeiro” de 27/03/1965 (transcrição literal):

INVERDADE
(Ismênia S. Saraiva)

Como seria bom se eu te esquecesse!
E tua imagem jamais eu recordasse,
Bem diverso seria meu destino
E, talvez que no mundo ainda eu crêsse.

Como seria bom se em cada hora
Eu pudesse invocar teu nome uma vez menos,
Certamente que logo o esqueceria,
E, voltariam meus lábios a sorrir como outrora.

(...)

Como seria bom se nunca mais
Tua mão voltasse acariciar a minha,
Ansiosa e feliz eu a erguiria ao léu,
Buscando a perfumada carícia dos rosais.

Como seria bom se o teu sorriso
Se apagasse pra sempre em meus olhos.
Outro talvez um dia eu encontrasse,
Que então me conduzisse ao paraíso.

Ah! Como seria bom se o que eu digo sentir
Tivesse na verdade a sua origem!
Malgrado meu, porque infelizmente
O que até agora fiz foi apenas mentir.


Outras pessoas da cidade também arriscavam alguma produção poética bissexta. No mais das vezes, o jornal, semanário, publicava algum soneto de nomes conhecidos, como Álvares de Azevedo e Bastos Tigre. Mas, é possível imaginar que as poesias de Ismênia tenham sido mais importantes no sentido de influenciar muitas garotas e povoar seu imaginário. A presença de alguém que podia ser vista ao vivo, que transitava pelas ruas da cidade e que tinha coragem de publicar seus textos com forte caráter de testemunhos vivenciais certamente servia de estímulo e exemplo. Em um sentido mais geral, a publicação de poesias era uma iniciativa salutar. Os sonetos, principalmente, deviam contribuir para uma melhoria das declarações amorosas, ou até, quem sabe, incendiar o relacionamento. O costume desapareceu da grande imprensa. Dos atuais ditos jornalões, apenas “O Correio Braziliense”, de Brasília, dedica uma coluna para a divulgação de poesias nos mesmos moldes do jornal de Lavras, isto é, publica tanto autores locais como autores nacionais e estrangeiros. Ganha por este aspecto, perde por outro. Não publica quadrinhos de humor nas edições diárias. O que fazem os demais: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo.


Santo de casa (II)

O repertório romântico era dominante nos bailes do Clube Comercial. Na preferência popular as canções de Lupiscínio Rodrigues, de Agostinho dos Santos e as composições de Dolores Duran. Também muito apreciados o Trio Irakitan e a Orquestra Tabajara. Afinado com este contexto, nosso ídolo local era Âmparo, intérprete amador, que arrasava quando cantava boleros. Chegou a fazer apresentações em cidades vizinhas, como Bagé e Caçapava do Sul.

Âmparo Fernandes Carvalho tornou-se artesão e artista plástico. A foto ao lado apresenta um dos seus trabalhos feito em casca de palmeira. O mesmo material, com uma pintura em acrílico, foi utilizado por Daniel Martinelli para presentear Barack Obama, durante sua visita à Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. A peça de Âmparo é esculpida e pertence ao acervo de Rosamaria Costa.

O cinema local

O Cine Independência, cujo palco também servia para apresentações de teatro, tinha dois valores de ingresso bem como duas portas de entrada: a social e a geral. Ambos os setores dispunham de cadeiras de madeira, sendo as da social mais anatômicas e confortáveis enquanto que as da geral eram bancos coletivos. A geral, como em estádio de futebol, era mais próxima da tela, e atendia aos segmentos menos favorecidos da sociedade ou a quem quisesse pagar menos. Uma cerca de madeira separava as duas classes. O prédio tinha janelas, o que não era comum no gênero. Para os meninos a principal atração eram os filmes de faroeste, seguidos das séries, muito populares na época: Tarzan, Ninotchka, O Zorro, Roy Rogers...


Naturalmente a grande expectativa era com relação aos filmes em que apareciam mulheres nuas, proibidos para menores. Como em cidade pequena sempre era possível dar um jeito, a grande expectativa chegava a um anti-clímax total: os filmes mais esperados eram os da Pelmex, Películas Mexicanas, que traziam o chamado “nu artístico”; por exemplo: em uma cena de palco aparecia uma jovem recostada a um canto, como se fosse estátua, segurando um jarro na cabeça e com o colo desnudo. Num filme francês aparecia um único seio descoberto, também em cena estática. Atualmente qualquer um daqueles filmes poderia ser exibido em conventos. Mas, era o que tínhamos.

Curiosidade: em julho de 1962 o Cine Independência apresentava “Suplícios de uma paixão”, com O.W. Fischer, Horst Bucholz e Odile Versois. Que o tempo esqueceu. Aos domingos havia uma sessão de matiné, às 15 hs, e uma sessão noturna às 20:00 hs.

Nas ondas sonoras do rádio

O rádio era o único equipamento a trazer o mundo para dentro de casa, em uma época em que a televisão não existia. Por meio dele era possível ouvir música, futebol, notícias, programas de auditório, animados pelas orquestradas mantidas pelas próprias emissoras, e as radionovelas. As radionovelas eram muito populares. Durante o dia eram transmitidas em vários horários com uma programação variada. As pessoas mais entusiastas do gênero chegavam a espalhar vários rádios pela casa, todos sintonizados na mesma novela para não perder nada, e acompanhavam até mais de dez novelas por dia.

Recentemente a rádio da Universidade Federal de São Carlos passou a transmitir a radionovela “Verdades inventadas”, protagonizada pela adolescente Laura. É composta de 35 episódios, de dez minutos cada um, e contou com a participação de 30 pessoas. A novidade é que os capítulos estão disponíveis na internet e podem ser baixados. Ver o blog “Viagens da Laura”: http://viagensdalaura.wordpress.com/. Clique em “escute aqui minhas aventuras” para ouvir os episódios já postados e para ter uma idéia dos efeitos de teledramaturgia. O site da rádio da UFSCAR é: http://www.radio.ufscar.br/. Outra opção é o site “Radionovelas”: http://www.radionovelas.com.br/, Neste caso, porém, as novelas são vendidas no formato de CDs.

Meu avô tinha um rádio Philips valvulado, com “olho mágico”. O olho mágico era um sensor que servia para indicar o aquecimento da válvula, quando ficava na cor verde, era sinal de que as válvulas já estavam suficientemente aquecidas e o rádio em plenas condições de operação. Os aparelhos da época eram todos valvulados. Os equipamentos valvulados, como os amplificadores de som, são considerados como os que apresentam melhor qualidade sonora. As válvulas, no entanto, são caras e difíceis de encontrar. O transistor praticamente sepultou as válvulas, que sobrevivem em nichos muito especializados.

Rádio Pillips com “olho mágico” 

Predominava a recepção em ondas curtas, alguma coisa em onda média, que era a  FM de hoje. Em Lavras do Sul só era possível sintonizar rádios de longe, as mais potentes. Normalmente rádios de Porto Alegre e do Rio de Janeiro, além de algumas rádios portenhas. Pelas suas características técnicas, o rádio só era utilizado nas ocasiões em que era possível ter uma boa recepção, o que não ocorria em todas as horas do dia. Durante o dia era impossível sintonizar as rádios mais distantes. Ao final do dia já era possível ouvir alguma coisa. De noite, porém, praticamente o mundo todo podia ser sintonizado. O jeito, portanto, era ser um bom “corujador”. Por meio do rádio anotava o resultado das apurações eleitorais para meu avô, udenista convicto. Ouvia também partidas de futebol. Gostava muito dos programas de auditório, principalmente os humorísticos.

Mesmo com a recepção “pipocante”, o rádio trazia muitas novidades. Um dos programas de que mais gostava era “Hoje é Dia de Rock” da extinta Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, apresentado ao final das tardes de domingo. Lembro do dia em que a rádio anunciou que tocaria, pela primeira vez no Brasil, um conjunto que estava fazendo furor entre a juventude da Inglaterra, uns tais de “Beatles”. Lamentavelmente a distorção e os ruídos da transmissão eram tantos que a música ficava quase inaudível. Como as rádios estavam sempre adiantadas, custou até que os Beatles se tornassem parte corrente de nosso cardápio musical. Também só muito tempo depois é que me dei conta de que aquele tinha sido um momento importante, histórico. Gostava também dos programas apresentados na Rádio Mundial pelo Big Boy, então o disc jockey mais famoso do país.

Nesta época surgiram os primeiros rádios portáteis, com capinha de couro e antena telescópica. Cansei de ficar namorando estes radinhos na vitrine da Casa Gaúcha, em Lavras. Mas, só fui ter o meu muitos anos depois, quando já morava em Porto Alegre.

Rádio Semp modelo de 1961 

Os rádios valvulados evoluíram. Abaixo um modelo atual de receptor, portanto sem as caixas acústicas. O modelo possui conectividade via Bluetooth ou entrada USB.
 


No recesso do lar

Comemoração de aniversário: aos 13 anos presumíveis. O tema do bolo era um campo de futebol. Na mesa garrafas de guaraná da época. Até hoje o sabor do guaraná me lembra festas infantis. 


Como era costume, a comemoração dos meus quinze anos contou com uma programação especial da rádio local, modestíssima, mantida pela Casa Gaúcha, e que transmitia simultaneamente também por alto-falantes. A programação do dia me foi dedicada, com destaque para uma seção exclusiva com músicas do Teixeirinha. Tudo posteriormente registrado no glorioso “O Garimpeiro”.

A grande família


Com uma seriedade extrema, aparecem na foto, da esquerda para a direita: no plano superior, Zulma, a auxiliar dos serviços domésticos, o jovem que vos narra estas memórias, sua mãe Maria e seu pai José Raymundo; sentados, os avós maternos Fermina Maciel e Antonio Fagundes. As crianças são os meus irmãos. Da esquerda para a direita: Iara Maria, Jorge Antonio, Regina Berenice e, mais ao fundo, Ila Maria.

Zulma, vinda do interior, era um exemplo de que sempre pode haver alguma sofisticação mesmo nos rincões mais recônditos. Seu nome, incomum, é de origem árabe e significa “aquela que tem saúde”, plenamente justificado. Tinha um irmão de nome “Adolar”. Perguntei o que queria dizer. Segundo sua mãe, significava dinheiro. Graças, portanto, a algum escrivão previdente seu irmão escapou de ser simplesmente “dólar”.




sexta-feira, 18 de março de 2011

CRIANÇA, CRIANÇA E O COMEÇO DA ADOLESCÊNCIA



Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
Manuel  Bandeira

Minha infância foi de uma simplicidade franciscana: colégio, igreja, futebol de botão, ouvir rádio e, tchan-tchan-tchan-tchan, tocar acordeon.

Realizei o curso primário no Grupo Escolar Pedro Américo e o ginásio no Ginásio Estadual Licínio Cardoso. Ambos funcionavam no mesmo prédio. Neste período morei com meus avós. Meu avô Antonio Fagundes mantinha a Barbearia União junto com uma banca de revistas. Hoje o local é sede de um grupo espírita.



O Grupo Escolar Pedro Américo possui um nome que dispensa apresentação. É de conhecimento geral que se trata do grande pintor brasileiro cuja principal obra foi o quadro O Grito do Ipiranga. Após a conclusão do primário prestava-se uma espécie de vestibular, o exame de admissão, para poder ser admitido no ginásio.

O nome em destaque no prédio:


 

Nos bancos escolares

A vida escolar de uma criança pode ser um caminho de percalços e terrores. Quando entrei na escola as palmatórias já estavam proscritas. As palmatórias eram feitas de madeira e serviam para aplicar corretivos nos meninos que recebiam castigo, sendo aplicada com força na palma da mão, daí seu nome. Mas não era só a ameaça de castigo físico que podia aterrorizar. Afinal, desde o berço as canções de ninar faziam ameaças explícitas: “Bicho papão / sai de cima do telhado / e deixa este menino / dormir sossegado”. Ou então: “Vaca da cara preta / não assusta este menino / que tem medo de careta”. Como toda criança, passei pela fase do medo do escuro. Normalmente é um medo não especificado, da escuridão como tal. Não me ocorria que nela pudesse estar escondida tal ou qual figura aterrorizadora. Talvez todas. Com certeza é um medo atávico, um medo do desconhecido, herança do homem das cavernas, que tinha todas as razões do mundo para ter medo do escuro.
 Medos mais concretos vinham da própria escola. Matemática sempre infernizou a vida de muita gente, começando pela tabuada que devia ser decorada. Mas era mais uma dificuldade, algo que demandava muito esforço. Medo real vinha de outras matérias, como as lições sobre bactérias e outras ameaças assemelhadas, como os problemas provocados pela ingestão de carne de porco mal cozida e a formação de solitária no intestino. Mesmo não morando em zona rural, onde as condições eram mais favoráveis para este tipo de ocorrência, o assunto assustava, principalmente a possibilidade de contrair uma solitária. Da qual tinha um medo pânico. O Posto de Saúde da cidade ao invés de ajudar contribuía para fazer mais alarde: exibia cartazes demonstrativos tão explícitos que provocavam verdadeiro horror.

As lições de higiene e de cuidado com a saúde tinham um lado mais simpático. Lembro perfeitamente da recomendação de comer verduras e legumes, além de leite e ovos para uma alimentação saudável. Meu café da manhã, coisas do Sul, volta e meia tinha um bifinho, preparado em fogão de lenha, com dois ovos fritos. Tudo, portanto, uma sábia prática; atualmente o café da manhã é considerado como refeição da maior importância. E o lanche da tarde, com bolo, pão, essas coisas, era invariavelmente com café preto. As famílias costumavam entupir as crianças de Calcigenol, havia uma preocupação muito grande com a ingestão de cálcio. Nas aulas recebíamos ainda uma recomendação que hoje parece curiosa, a de dormir com a janela aberta, para que o ambiente ficasse constantemente ventilado. Quanto a isto, bons tempos.

Medo mesmo, aquele que o Houaiss define como “temor, ansiedade irracional ou fundamentada”, tinha das aulas de canto orfeônico e das de educação física. Enfim, uma “falta de tranquilidade, sensação de ameaça”, que se manifestava em tudo aquilo em que não tinha a menor habilidade. As aulas de educação física, por exemplo, provocavam um imenso desconforto. Pular obstáculos em altura deve ter me deixado com muitas noites de sono mal-dormido. Em canto orfeônico, o esforço para enfrentar as provas – o aluno era chamado para ficar na frente da turma e cantar, ou tentar -, talvez só fosse superado pelo esforço da professora em extrair do desastrado aluno pelo menos uma linha com certa afinação. O repertório era até simpático, como “Chuá-Chuá”, “Fiz a cama na varanda”. 

 Nesta época meu pai vivia cantarolando “Kalu”, do Humberto Teixeira: “Kalu, Kalu / Tira o verde desses óios di riba d’eu”... Esta música foi revivida em 2002, com o lançamento do disco-homenagem “O Doutor do Baião - Humberto Teixeira”, título que se deve à circunstância de que o consagrado letrista popular era formado em Direito e trabalhou a vida inteira como advogado. A regravação da música foi de Chico Buarque. Humberto Teixeira garimpava nomes pouco comuns. Outro exemplo encontra-se em “Baião de dois”, gravada no disco por Caetano Veloso: “Abdom que moda é essa / deixe a trempe e a cuié / home não vai na cozinha / que é lugá só de mulhé”.

 O tipo de foto que todo mundo tem 


Já mais grandinho

As lembranças do ginásio são mais cândidas. Algum tempo depois é que me dei conta de que a professora de geografia não conhecia pessoalmente todos aqueles locais e regiões que descrevia com tanta propriedade. Ela era, portanto, convincente e dava conta de sua tarefa com extrema competência.

Pelo resto da vida me arrependi por não ter sido aplicado nas águas de línguas, francês e latim. Francês, porque o professor era folclórico, cheio de ademanes, motivo de galhofas pela turma. Mas, nunca esqueci alguns bordões dos livros, como: “par la vue nous distinguons la forme et la couleur des objects”. Ao final do último ano de francês, na saída da escola para comemorar alguns colegas atiraram os livros para o alto, que ficaram aonde caíram. Também não me dediquei como devia ao Latim, influenciado pelos que achavam a matéria exorbitante. Estaria enterrado se arrependimento matasse. Tivesse estudado com afinco e hoje teria uma base extraordinariamente mais sólida para o conhecimento da língua portuguesa. Estes dois exemplos sugerem que nem sempre é conveniente seguir a manada, esta no bom sentido, como “mainstream”, grande tendência.



Licínio Cardoso, o nome do Ginásio Estadual, refere-se a um grande vulto da cidade. Nascido em Lavras, notabilizou-se no Rio de Janeiro como matemático, também com interesses no positivismo e em homeopatia. Para saber mais a seu respeito, consulte:

 
O hino do ginásio, que cantávamos, não era oficial. Segundo a Profa. Irma Barbosa, foi composto por uma ex-aluna, Leda Silveira, para ser executado em uma cerimônia do colégio, no ano de 1959. O hino era cantado com a música da canção italiana “Santa Lucía”.


Hino a Licínio Cardoso
(Autoria da letra: Leda Silveira)

A 2 de maio
Nasceu Cardoso
Em berço humilde
Nada mimoso
Lavrense sábio!
Grã raciocino!
Salve ó Licinio
Salve ó Licinio!

Somos honrados
Nós ginasianos
Em ser chamados
Os licinianos
Em ter teu nome
Nome tão digno
Salve ó Licinio
Salve ó Licinio


A garotada fazia algumas estripulias com o hino. A paródia mais conhecida transformava a primeira estrofe: “Há dois mil anos / nasceu Urbano / em berço humilde / feito de pano...” Urbano era sarará, um tipo popular entre a meninada. Vivia com Negucha – uma afrodescendente, como se deduz do seu apelido – que tinha um defeito nos pés, virados para dentro, e por isto andava de uma forma meio esquisita. Para sobreviver eram changueiros, isto é, faziam changas, pequenos serviços. Ela, se bem me lembro, lavava roupas. E Urbano, quando surgia a oportunidade, carregava malas para a Rodoviária para quem ia embarcar ou de quem estava chegando. Acompanhar a chegada dos ônibus intermunicipais, em especial os da linha Bagé-Porto Alegre, despertava muita curiosidade, era quase um programa social. Em Lavras e em qualquer outra cidade pequena do Rio Grande do Sul. Quanto a Urbano, nunca soube porque se chamava assim, se era nome ou apelido.

Atualmente os dois antigos níveis de ensino constituem um único estabelecimento, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Licínio Cardoso. Uma visão geral do prédio:



Os créditos para quem merece:

 Sra. Geny Maria Gómez Corrêa e Profa. Irma Barbosa da Silva, consultoras deste blog