terça-feira, 18 de março de 2008

Além do Chuí: a Patagônia argentina

Andréa Leal*

Saí de Porto Alegre com um grupo da Galápagos, formado na sua maioria por pessoal de terceira idade. Pegamos um tornado no caminho, e cheguei bem mareada a Buenos Aires. Quando entrei no quarto de hotel, surpresa! Uma banheira! Fiz um mate, me estabeleci na banheira e fiquei por ali até passar o enjôo... ê, vidão!

No outro dia fomos direto ao fim do mundo, Ushuaia, a cidade mais austral do mundo. Dali pra frente, só o pólo sul. Uma coisa fantástica! Passeio de barco pelos rios de gelo cheios de tempanos (icebergs) e glaciares. Paisagens de sonho.

Tempanos (icebergs)

Dali, a El Calafate, um pouco mais a noroeste. Mais glaciares e o lago argentino, cor azul turquesa por causa do magnésio que desce dos Andes. De El Calafate, passamos a fronteira para o Chile, para o Parque Nacional de Torres del Paine. Incrível. Além da paisagem, vimos guanacos, sorros e o condor. De volta a El Calafate, fomos no Glaciar Perito Moreno, onde fiz trekking sobre o gelo. Inesquecível. Uma experiência de não mais esquecer.

Glaciar Perito Moreno

Dali, de volta a Buenos Aires, onde fiquei mais três dias. Buenos Aires é realmente muito européia. A cidade é limpa e organizada, visitei toda ela de metrô, que tem um sistema muito bom e barato, o passe custa 90 centavos de pesos (mais ou menos 60 centavos de real) e a gente pode baldear de linha sem pagar mais por isto, podendo cruzar toda a Buenos Aires.
Achei os portenhos extremamente simpáticos, ao contrário do que dizem. Tá certo que passeei sempre com a minha camiseta do Che Guevara e sempre dizendo que eu era brasileira, que eles adoram. Aliás, Maradona, Evita e El Che são legendas para os portenhos. Eles idolatram. Buenos Aires merece muito mais do que apenas três dias. Fotos dão apenas uma vaga idéia. Só indo lá pra ver ao vivo.

(*) Andréa Leal é filha da dedicada professora Marina Lima Leal, líder sindical da categoria em Canoas, RS.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Lendo Emily Dickinson

Poema de Emanuel Medeiros Vieira
Para Célia de Sousa

Poderia ser 1830,
quando nasceste,
mas é 2008,
chuvoso domingo de março,
não publicaste livro em vida (o que menos importa).
“Ela chegou afinal, mais ágil porém a Morte
Havia ocupado a casa:
A pálida mobília já disposta,
Junto com sua palidez metálica” (...).
Só poeira e esquecimento,
nada dura,
Felicidade efêmera – ler teus poemas, Emily.

O domingo fluindo,
tempo: linha reta de eterna agonia.
Não existe presente, só passado.
Nem futuro.
A namorada de 1968 jaz num cemitério de aldeia.
“Empoeirado se mostra o mundo
Ao nos deitarmos para morrer”.
Sim: “Tão longe da compaixão quanto a queixa
Tão frio às palavras quanto a pedra.
Tão insensível à Revelação
Como se meu ofício fosse nada.”
O empenho diário é inútil?
Para os outros.)
Ah, cidade que me atirou seu presságio
adverso.
Terá termo a espera?
Deve-se matar a morte que sobre nós se abate.
Peço desculpas aos poetas que pilhei:
confluências.)
"Aqui jaz a inocência:
a morte não existe, nós é que morremos.”

Brasília, março de 2008